terça-feira, 12 de maio de 2009

The Devil Rides Out (1968): Kickass!!!


Como diria Nelson Mandela, "this fucking movie kicks unbelievable amounts of ass".

Lançado no Brasil com o estapafúrdio título "As Bodas de Satã" (não tem nenhuma casamento demoníaco na história), este é um dos melhores (senão o melhor) filmes já produzidos pela Hammer, com uma das mais memoráveis interpretações de Christopher Lee (empolgante em um de seus poucos papéis heróicos); um roteiro enxuto, onde a ação parece nunca parar, embora não haja qualquer deficiência na exposição; uma seita satânica baseada em conhecimento considerável de magia cerimonial (não estou dizendo que acredito nisso, só que tenho um interesse acadêmico sobre o assunto e sei que o filme não saiu tirando sua mitologia do nada) e Charles Gray como o vilão satanista mais cool da história do cinema.

A trama tem início com a chegada do duque de Richleau (Christopher Lee) à Inglaterra, onde é recebido por seu amigo de guerra, o americano Rex Van Ryn (Leon Greene). O terceiro membro do grupo de compadres, Simon Aron (Patrick Mower), não comparece à reunião anual do trio. Tal ausência, tomamos conhecimento, é consistente com o comportamento retraído que o rapaz tem adotado ultimamente. Seus dois amigos, a fim de verificar o que está ocorrendo, resolvem fazer uma visita-surpresa ao rapaz, que se isolou numa mansão nos arredores de Londres.

Lá chegando, de Richleau e Rex percebem que entraram, involuntariamente, de penetras numa festa; Simon alega que não os esnobou, mas que se trata de uma reunião de uma "sociedade astronômica" a que ele se filiou recentemente. De Richleau e Rex, ignorando que sua presença não é bem-vinda (o duque ignora porque, já desconfiado, quer sondar o ambiente; Rex, porque realmente é meio sem noção), resolvem dar uma circulada e trocar umas idéias com a turma, que se revela um aglomerado de ricaços das mais diferentes nacionalidades, entre os quais o parrudo e enigmático Mocata (Charles Gray), que, aparentemente incomodado com a presença dos dois caras-de-pau, chama Simon para uma conversa particular.

Aproveitando o ensejo, de Richleau continua a sondar a área, captando fragmentos de várias conversas entre as diversas panelinhas da festa; Rex, enquanto isso, tenta xavecar uma jovem, Tanith (Nike Arrighi). A investida do "galã" se revela infrutífera: a moça, ao perceber que Rex não é membro da sociedade e, portanto, está excedendo o "grupo de treze" que deveria estar ali na ocasião, dá um célere chega-pra-lá no sedutor frustrado e se afasta.

Finalmente, Simon (claramente sob pressão de Mocata) percebe que os amigos não vão se mancar e resolve, delicadamente, sugerir que eles se retirem, dado que se trata de uma reunião exclusiva, prometendo entrar em contato em breve para que os três possam "tomar umas" mais à vontade. O duque não se ofende, pedindo apenas para dar uma olhada no observatório astronômico da casa. Ansioso para se livrar dos dois pentelhos, Simon concorda.

O observatório, é, digamos assim, meio suspeito, sugerindo que sutileza não é uma das notas características da tal "sociedade astronômica".

Os símbolos que adornam o recinto, associados a uma galinha branca e um galo negro (bom, pelo ocultismo, era para ser negro, mas na verdade é mesclado, negro e pardo) que de Richleau encontra em um dos armários confirmam suas suspeitas: sociedade astronômica é o escambau - Simon está envolvido em uma seita de magia negra. Resolvendo deixar a conversa de bêbado para delegado de lado, o duque vai direto ao ponto e confronta o jovem sobre o fato, recebendo o típico "a vida é minha e eu faço dela o que eu quiser" como resposta. De Richleau tenta, racional e calmamente, persuadir o rapaz, apelando para sua experiência e idade e explicando que, durante toda a sua vida, estudou esoterismo, e que o amigo está sendo induzido, ingenuamente, ao culto ao Maligno. Não logrando êxito em convencer Simon a abandonar suas "novas experiências", o duque perde a paciência e parte para uma abordagem mais convencional:

Aplicando um certeiro soco no jovem, que desmaia, le Duc abduz o rapaz e, na saída da casa, ainda bate a poeira do mordomo. Só pra sacanear. Isso é massa: menos de quinze minutos de filme e já temos Christopher Lee perdendo a compostura e descendo a porrada duas vezes.

De Richleau conduz o rapaz a sua casa, onde o submete a uma sessão de hipnotismo para reverter a "lavagem cerebral" que teria sido feita pela seita e o deixa em um dos quartos de hóspedes, com a sugestão hipnótica de dormir por oito horas e acordar "de mente clara". E com um crucifixo em torno do pescoço. Rex, claro, não entende nada e acha que o duque está levando o negócio a sério demais. Lamentavelmente para os rapazes, Mocata, líder da seita, também não é homem de ficar punhetando, e usa seus poderes sobrenaturais para fazer o rapaz fugir na calada da noite.

Percebendo a sacanagem que lhes foi aprontada pelo satanista, de Richleau e Rex retornam à mansão de Simon, onde não encontram o mancebo. Mas, no observatório, são confrontados diretamente, pela primeira vez, por uma manifestação física dos superpoderes de Mocata, escapando por um triz.

A situação, evidentemente, deixa Rex mais propenso a acreditar nas teorias de seu amigo. De Richleau, explica, então, o significado dos símbolos, do casal de galináceos, do antigo tomo de ocultimo que eles encontram na desagradável segunda visita à casa de Simon e tudo o mais: o jovem está prestes a ser induzido numa seita satânica, provavelmente liderada por Mocata, e seu batismo de sangue, que deveria ter sido realizado naquela noite, tornaria praticamente definitiva a perda de sua alma para o Tinhoso. É então que o duque se dá conta que a noite seguinte, véspera do primeiro de maio, é o maior Sabbath do ano, quando certamente Mocata aproveitará a ocasião para celebrar o batismo satânico de Simon.

As possibilidades de a dupla impedir o fatídico batismo melhoram quando Rex se lembra que já havia encontrado Tanith, a jovem que tentou xavecar na "festa", em outra ocasião e os dois, munidos do nome completo da moça, conseguem localizar onde está hospedada. Usando, presume-se, cantadas provavelmente mais eficazes que suas abordagens anteriores, Rex basicamente sequestra Tanith (que também ainda não foi "batizada") e, conforme acordado com o duque, a leva para a casa de de Richard e (Paul Eddington) Marie Eaton (Sarah Lawson), sobrinha de De Richleau.

A abdução, porém, não dura muito tempo: assim que chegam à casa, é só Rex estacionar e virar as costas que a beldade, sob a influência de Mocata, furta o carro e foge em disparada. Rex, sem muita cerimônia, pega o carro do casal emprestado e segue a fujona. Após uma frenética perseguição (bons tempos aqueles, em que ninguém achava necessário dez cortes por segundo para tornar uma cena de perseguição automobilística "mais emocionante"), Tanith, auxiliada pelos poderes malevólos do vilão e contrariando toda a sabedoria popular sobre mulheres na direção, acaba levando o herói a bater o carro e ficar comendo poeira na beira da estrada.

Por sorte, o destrambelhado herói, após quase ser atropelado na estrada por outro membro da seita, também a caminho do Sabbath, consegue seguir o autor do atropelamento fracassado até os portões de uma mansão (porra, todo mundo nesse filme é podre de rico e tem uma mansão...), em cujo jardim se encontram estacionados uma cacetada de carros, e testemunha Mocata, Simon e mais uma porrada de gente usando capas pretas saírem da casa e seguirem em carreata com os veículos. Sorrateiro, Rex consegue se entocar na mala de um deles, identificar o local onde ocorrerá a carimônia satânica e entrar em contato com De Richleau, que se apressa em chegar a tempo de impedir a sua realização.

Mocata realiza a liturgia que, para quem tem algum conhecimento de esoterismo e ocultismo é bastante autêntica, desde a indumentária aos apetrechos utilizados e invocações. E bastante atmosférica e sinistra, ao contrário de 99% dos rituais satânicos mostrados em filme, que geralmente são risíveis. Segue-se, broxantemente, a orgia satânica mais recatada da história do cinema (no livro, o negócio é um tremendo bacanal; aqui, é só um bando de manés vestidos, enchendo a cara e dançando, mas temos que dar um desconto: a censura britânica, à época, era tão cheia de frescuras que foi um milagre terem sequer permitido a produção, que a Hammer tentava tirar do papel desde 1964), culminando com a presença do Coisa-Ruim em pessoa...


De Richleau e Rex, entretanto, não perdem tempo e interrompem a farra na base de faróis, tentativas homicídio com veículo automotor, porradas e lançamento de crucifixos, finalmente resgatando Simon e Tanith, fugindo no carro de um dos satanistas e os levando para a segurança do lar do casal Eaton.

Mocata, contudo, é persistente como um adolescente lutando para se livrar do estigma da virgindade. De Richleau vai à cidade, fazer algumas pesquisas, deixando Simon e Tanith sob a guarda de Rex e Richard. O satanista aproveita a deixa e resolve fazer uma visita, a pretexto de devolver o carro do duque, que ficou no local do ritual após a fuga. E temos aqui uma das melhores cenas do filme, em que Charles Gray dá um show de interpretação e Mocata, de competência.

A princípio, de forma bastante razoável e persuasiva, o vilão tenta convencer Marie Eaton a permitir-lhe conversar com Simon e Tanith, aduzindo que as idéias do duque sobre suas práticas são baseadas em preconceitos supersticiosos; a conversa, entretanto, não convence a moça. Mocata, então, parte para uma demonstração ao vivo de seus poderes, e usa de hipnose para descobrir onde os dois se encontram, quase provocando a morte de Rex e Richard, deixando de lograr êxito por mero azar e saindo de cena com uma das melhores (tanto em teor quanto em entonação) ameaças do cinema de horror de todos os tempos: "I shall not be back, but something will. Tonight. Tonight something will come for Simon and the Girl." ("Eu não voltarei. Mas algo virá. Esta noite. Esta noite algo virá atrás de Simon e da garota.") O homem é foda! E a maneira casual como ele profere a ameaça (com a mesma despreocupação de quem diz "Então tá, amanhã a gente se encontra no boteco do Chico pra tomar umas") consegue ser, simultanemente, intimidadora e hilária. O sujeito é o Dean Martin do satanismo. Testemunhem:



A coisa toda culmina com um confronto de poderes esotéricos e de forças de vontade entre Mocata e De Richleau, envolvendo este, Simon, Richard e Marie, protegidos por um "círculo mágico" contra o "algo" que Mocata vai enviar. O "algo" abrange variados tipos de aparições, chicanas sobrenaturais, monstros gigantes e até o próprio anjo da morte. E isso ainda é antes do clímax do filme, que consiste numa corrida contra o tempo para impedir o sacrifício de uma criança. A conclusão da história, embora pareça extremamente "viajada" à primeira vista, faz bastante sentido dentro da lógica interna do filme e é extremamente satisfatória (ao contrário de reviravoltas de merdas recentes como "Identidade" e praticamente tudo que M. Night Shyamalam fez depois de "Unbreakable").

Não vou dizer que "não se fazem mais filmes assim", porque 1) ainda fazem, embora raramente; e 2) porque corro o risco de parecer um saudosista rabugento. Mas vou dizer que é extremamente difícil encontrar filmes assim hoje em dia. A trama é muito densa e repleta de reviravoltas, mas a direção e o roteiro, respectivamente, dos veteranos Terence Fischer e Richard Matheson conseguem condensar tudo em 95 minutos de filme, sem em momento algum perder a coerência. O ritmo é acelerado do início ao fim, mas não se deixa nada a desejar em caracterização ou exposição. Ao final, o espectador fica surpreso com com a curta duração - trata-se de um daqueles raríssimos casos em que você tem a impressão de que o filme é mais longo não porque ficou de saco cheio, mas porque parece improvável que tenha acontecido tanta coisa em tão pouco tempo. É uma experiência fascinante ver The Devil Rides Out logo após assistir a uma merda interminável e cheia de embromações como "Piratas do Caribe 3".

O filme é baseado num livro de Dennis Wheatley, que era amigo pessoal de Christopher Lee, extremamente prolífico e um best-seller à sua época, mas pouco lido hoje em dia. Só li três obras do autor (The Devil Rides Out, To the Devil... a Daughter e The Satanist) e entendo perfeitamente o motivo de sua atual falta de popularidade: apesar de ser um contador de histórias decente, baseadas em enciclopédico (embora, em meu entender, ideologicamente equivocado) conhecimento de ocultismo, Wheatley era também um racista virulento, um entusiasta do imperialismo britânico como instrumento de civilização de "culturas inferiores" e, suspeito eu, com base no que li, um defensor da eugenia em sua pior acepção. É sério: nos três livros citados, os vilões eram sempre estrangeiros (geralmente oriundos da Ásia ou da África), geralmente portadores de alguma deformidade ou deficiência física. O Mocata literário, por exemplo, ao contrário de sua sofisticada e inglesa versão cinematográfica, é um estrangeiro (de onde, não se sabe, mas fica claro que ele não é caucasiano) extremamente obeso e padece de uma língua presa que torna muito difícil levá-lo a sério; na primeira "reunião", praticamente todos os convidados, com exceção de Simon e Tanith, têm algum defeito físico berrante. Fica implícito, também, que foi o fato de Simon Aron ser judeu (e, pela lógica do autor, "mais fraco") que o teria deixado mais "vulnerável" à sedução do satanismo. Na verdade, na primeira página do livro há uma frase totalmente sem propósito a respeito de Richleau estar indo visitar seu amigo Simon Aron, "o judeu de Londres". Os mocinhos, por outro lado, eram invariavelmente britânicos, brancos e tradicionalistas. Eu detesto o "politicamente correto", mas esse é um daqueles casos extremos mesmo: o racismo do homem era um negócio tenebroso e acabava transformando histórias com tremendo potencial em palhaçadas. Seu anti-comunismo histérico também não ajudava. Compreendam: eu tenho uma profunda repulsa pelo comunismo e acho o apego historicamente retardatário da esquerda latino-americana às baboseiras marxistas um dos fatores que contribuem para o atraso da região. Mas Wheatley era daqueles que achavam que comunista come criancinha. The Satanist é o caso mais ridículo: toda a trama da história parte da premissa de que havia uma conspiração internacional envolvendo a União Soviética e o satanismo. Mas The Devil Rides Out ainda tem um parte chatíssima (felizmente ausente no filme) envolvendo a tentativa de Mocata localizar um tal talismã esotérico para levá-lo à URSS, o que ensejaria a hegemonia desta no cenário internacional. Matheson fez exatamente o que se espera de um escritor de seu calibre: expeliu tudo que havia de racista, fastidioso e ridículo no livro e fez um dos melhores filmes de terror sobre satanismo de todos os tempos.

Fisher não fica atrás, dirigindo com a segurança que o fez responsável pelos filmes que tornaram a Hammer um nome de peso no cinema de horror. A fotografia e cenografia, como de hábito nos filmes da produtora, são excelentes, e a recriação do período (o filme se passa na década de 30), é convincente e naturalista (ao contrário do visual dos góticos clássicos, que tinham um certa aparência artificial, típica de filmes totalmente filmados em estúdio, que lhes dava uma atmosfera de contos de fada macabros). A trilha sonora é, simplesmente, a melhor obra de James Bernard.

E o elenco, com exceção de Nike Arrighi (não sei se é o sotaque chato, não sei se é sua "beleza exótica", mas eu acho a personagem absolutamente xarope e não entendo o "amor à primeira vista" de Rex pela moça). Charles Gray, como já dito reiteradamente, compõe um vilão extremamente estiloso e carismático, inspirado no célebre (ou infame, dependendo do ponto de vista) Aleister Crowley. Francamente, o personagem se porta com tanta classe e expõe suas convicções de forma tão razoável, civilizada e inteligente que o espectador tende a se perguntar se os satanistas não teriam razão - até o momento em que ele mostra a verdadeira natureza de tais convicções, que incluem homicídio de quem contrariá-lo e sacrifício de crianças. Christopher Lee se destaca num papel atípico, conferindo a De Richleau, ao mesmo tempo, um ar de autoridade, integridade, decência e simpatia (o personagem poderia facilmente se tornar um xarope santarrão) que fazem o espectador a acreditar em suas suspeitas mirabolantes, de forma similar ao Van Helsing de Peter Cushing. Leon Greene, apesar de dublado para esconder o sotaque australiano, também convence, interpretando um indivíduo comum, basicamente decente, meio bronco, mas que jamais, felizmente, descamba para o comic relief. Sarah Lawson e Richard Eddington, apesar dos papéis reduzidos, não fazem corpo mole e tem especial relevância em momentos cruciais do filme. E nem a criança da história enche o saco. O fato de toda a trama ser tratada com extrema seriedade por todos, sem um vestígio de ironia, aliás, é um dos motivos que fazem o filme funcionar: assim como outro clássico do gênero, Night of the Demon, trata-se do tipo de história que poderia facilmente descambar para o ridículo caso não houvesse comprometimento total dos envolvidos com o tom sério do filme. E tal tom ajuda a engolir alguns efeitos especiais meios toscos (repare que eu nem os mencionei, pois os julguei desprezíveis em face da excelência do resto do filme).

Resumindo: Este filme é fuderoso. Assistam.

7 comentários:

  1. "e praticamente tudo que M. Night Shyamalam fez depois de "Unbreakable")."

    Ei! Identidade é excelente! A reviravolta do filme não é apenas desculpa para os acontecimentos do filme, ele é apenas um excercício de linguagem cinematográfica metalinguística. Mas usado de maneira bem convicente. Considero Identidade um tremendo de um Giallo made in america.

    Agora Unbreakable eu acho a única obra-prima do indiano metido a Hitchcock mesmo. A única vez que seu ótimo clima bateu bem com seu único bom roteiro.

    Enquanto ao filme, eu não vi, mas ele me lembrou, não sei pq, de um outro chamado The Devil Thumbs a Ride, estrelado pelo chefão de Cães de Aluguel. Já viu esse?

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  2. "Ei! Identidade é excelente! A reviravolta do filme não é apenas desculpa para os acontecimentos do filme, ele é apenas um excercício de linguagem cinematográfica metalinguística. Mas usado de maneira bem convicente. Considero Identidade um tremendo de um Giallo made in america."

    Para ser inteiramente sincero, ainda estou em conflito sobre esse filme. A primeira vez que assisti, cheguei à mesma conclusão que você: "Caramba! O cara conseguiu fazer um suspense de primeira, com um final imprevisível e que consegue usar metalinguagem de forma orgânica, sem parecer pretensioso". Geralmente, eu sempre vejo um filme mais de uma vez, independentemente de minha opinião inicial (que pode pudar para melhor ou pior), salvo quando se trata de uma bomba do naipe de "Drácula Vs. Frankenstein", por exemplo).

    Na segunda vez que assisti, minha reação mudou. Fiquei com a impressão de que a idéia inicial do roteirista era, como você disse, dirigir um "giallo made in America", construiu um suspense bastante intrigante mas acabou sem saber como concluir a história de maneira satisfatória e usou aquele final, que desta vez, me pareceu um cop-out (mais ou menos como "Encaixotando Helena", com a diferença de que este é um filme inteiramente imbecil, enquanto "Identidade" tem virtudes inegáveis) e me deixou puto. Vou tentar ver de novo e talvez minha opinião mude, mas acho improvável.

    "Agora Unbreakable eu acho a única obra-prima do indiano metido a Hitchcock mesmo. A única vez que seu ótimo clima bateu bem com seu único bom roteiro."

    Concordo totalmente. Achei "O Sexto Sentido" muito bom, mas aquela frescura toda de marketing sobre "o final você nunca vai matar" acabou me levando a me concentrar nisso e acabar adivinhando o final (se você assiste o filme TENTANDO descobrir isso, o que não creio que fosse a intenção inicial do diretor, não se torna tão difícil assim "matar" o final). Prejudicou minha apreciação do filme. "Unbreakable" por outro lado, achei perfeito e ainda hoje considero a melhor coisa que ele fez. Infelizmente, o miserável acabou se convencendo de que era o "homem dos finais imprevisíveis" e passou a fazer filmes em que toda a trama gira em torno de uma reviravolta debilóide no final ("Sinais" e "A Vila" são os exemplo mais podres. O cara nunca ouviu falar nos Amish ou no fato de que a atmosfera do planeta tem água?)

    "Enquanto ao filme, eu não vi, mas ele me lembrou, não sei pq, de um outro chamado The Devil Thumbs a Ride, estrelado pelo chefão de Cães de Aluguel. Já viu esse?"

    Não, mas agora fiquei curioso. Vou dar uma olhada.

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  3. Hehehehe. Esse Encaixotando Helena eu lembro só q na época a Kim Basinger a atriz contratada pro filme, resolveu pular fora na última hora, rompendo contrato e deu maior auê em cima disso, ela teve que pagar uma multa salgada e coisa assim. Dizem q o Julian Sands tem uma maldição. Toda atriz com quem ele contracena, tem a carreira destruída. A maldição de Sands!

    Cara, não tem pior coisa que um diretor acreditar no próprio hype. O Shyamalam é talentoso, mas se tivesse o mínimo de semancol, já estaria usando roteiro de outras pessoas há muito tempo. O próprio De Palma que faz roteiros infinitamente melhoes que ele, diz que se sente bem mais a vontade usando roteiros dos outros. O indiano deveria ser um pouco mais humilde. Decapouco ele vai afastar até seus fãs mais radicais com suas baboseiras e essa obsessão boba de final-surpresa. Agora, Corpo-Fechado é muito, muito bom. Despertou o espírito de Kubrick nele enquanto filmava.

    "O cara nunca ouviu falar nos Amish ou no fato de que a atmosfera do planeta tem água?)"

    Hahahahahahahaha! Na mosca!

    "Não, mas agora fiquei curioso. Vou dar uma olhada."

    Vai mesmo! The Devil Thumbs a Ride é o "Morte Pede Carona" dos anos 40. Tarantino disse que o filme é a síntese da personalidade do Lawrence Tierney: Pq vc deu uma carona pra ele, o Tierney vai transformar sua vida em um inferno!

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  4. "Despertou o espírito de Kubrick nele enquanto filmava."

    Exatamente a mesma coisa que pensei quando vi o filme: "caralho, o cara é o Kubrick de nossa geração". Pareceu um caso de possessão. Infelizmente (e guardadas as devidas proporções), Shyamalam acabou sendo o Michael Cimino de nossa geração.

    "Hahahahahahahaha! Na mosca!"

    E isso são só aspectos superficiais. A "mensagem" de "Signs" é, em síntese, que tudo faz parte do "plano de Deus". Tudo, até os detalhes mais insignificantes. Mesmo sob uma perspectiva de quem acredita na existência de um Deus benevolente, esse mensagem é ridícula. Quer dizer que, se eu acordar grogue e bater a cara na parede, faz parte do plano de Deus? Se o cara tem uma unha encravada, isso faz parte do plano de Deus? Se fulano se descuida e mete o dedo no nariz em público, isso faz parte do plano de Deus? O negócio é tão imbecil que chega quase a doer.

    "Vai mesmo! The Devil Thumbs a Ride é o "Morte Pede Carona" dos anos 40. Tarantino disse que o filme é a síntese da personalidade do Lawrence Tierney: Pq vc deu uma carona pra ele, o Tierney vai transformar sua vida em um inferno!"

    Estou providenciando. Tierney é totalmente kickass e "A Morte Pede Carona" dos anos 40... você me convenceu.

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  5. "Encaixotando Helena": Basinger, se não me engano, teve que fazer o equivalente norte-americano a declarar insolvência por causa do prejuízo que teve com a quebra de contrato. E o pior de tudo é a decisão foi a mais acertada. A Jennifer Lynch parece que elaborou uma trama bizarra só para mostrar que é igual ao pai, mas dá pra ver que todo o talento daquela família foi pro véio (ei, será que o bebê de "Eraserhead" é a Jennifer?).

    A história do filme é implausível e os personagens são todos detestáveis. Nem o fator tesão de Sherilyn Fenn faz você suportar a tal Helena e o personagem de Julian Sands... imagine um cara que encontra a mulher fazendo uma surumba com quatro outros no chão da sala-de-estar e pede desculpas por ter entrado sem bater. A personalidade dele é mais ou menos assim. O tenebroso é que o filme quer ter uma "mensagem" e, se eu entendi corretamente, a mensagem é perturbadora, máxime quando você se lembra que a diretora é uma mulher. O final é simplesmente o tapa na cara que fecha o negócio com chave de ouro (SPOILERS para quem ignorar meus conselhos e decidir se submeter a esse nojo): Sands acorda e descobre que "foi tudo um sonho".

    "Maldição de Julian Sands": vamos lá: Lori Singer, Stacey Dash, Suzanna Hamilton, Paula Marshall, Sherillyn Fenn, Elisabeth Shue... Cacete... faz sentido. Quem será a próxima vítima: Elsa Pataky? Está parecendo...

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  6. Opa! Mas mesmo assim, Cimino dá de mil a zero no indiano, mesmo na sua fase "Horas de Desespero" pra cima! Até pq Horas tem personagens muito mais interessantes que qualquer um do Hitchcock-wannabe de Sinais pra cima.

    Carajo! Eu tinha me esquecido que esse Encaixotando era da filha do Lynch (!!) É verdade! E não é que a filhota achava mesmo que era só "ser filhinha de peixe"?? Já foi mandando ver com o projeto mais pretensioso q ela achava ter criado, mas pelo visto se estrepou bonito. Não é uma Sofia Coppola, por assim dizer. E que nada! Do bebê de Eraserhead o Lynch tem mais orgulho! haha.

    Nossa senhora...quer dizer que ESSE foi o final escapatório brilhante que ela arrumou pra desculpa de filme q ela cometeu? Quer dizer que nem ao menos a mulher virou melância fatiada? Pqp, se eu fosse o Lynch, deserdava! E a gente reclamando do Shyamalam...incrível como gente medíocre fica bem melhor perto de outras medonhas.

    ""Maldição de Julian Sands": vamos lá: Lori Singer, Stacey Dash, Suzanna Hamilton, Paula Marshall, Sherillyn Fenn, Elisabeth Shue... Cacete... faz sentido."

    E pode incluir aí tb, para ficar mais dramático: Ava Gardner e Natasha Richardson morreram de verdade (Não só para o cinema) depois de terem trabalhado com ele! O último filme da gardner inclusive foi com o Sands! E ok, a Richardson até que "demorou um pouco mais", mas mesmo assim eu acho que o culpado é o Sands até que se prove o contrário!

    E rapaz, eu achava a Lori Singer deliciosa! Uma das gurias mais lindas dos anos 80, bem mais bonita até que sua sosia, Daryl Hannah. E ela fez filmes bem legais, sempre me perguntei pq ela não teve um futuro mais próspero, e matei a charada depois de perceber que ela tinha feito Warlock anos atrás. Acho que ela foi o pior caso MESMO, pq nem filmes podres ela fez. Ela parou MESMO depois de uma tentativa de série fracassada "VR.5" em 95 e ficou parada até 2005 onde ela fez mais um filme e depois nunca mais de novo.


    "Quem será a próxima vítima: Elsa Pataky? Está parecendo..."

    E Erica Durance! A pobre coitada já tem pinta que não vai ser nada depois desse Smallville aí e ainda me vai estrelar filme com Julian Sands?? ô gente que gosta de viver perigosamente!

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  7. "Opa! Mas mesmo assim, Cimino dá de mil a zero no indiano"

    Certamente. Daí o "guardadas as devidas proporções". Cimino fez um filme excelente, outro tenebroso e passou o resto da carreira tentando fazer bons filmes, sem nunca chegar ao patamar do primeiro, mas ainda assim fazendo obras, pelo menos, realizadas com competência (tipo "Year of the Dragon" e o remake de "Desperate Hours"). O indiano fez um filme muito bom, outro excelente e está passando o resto da carreira tentando fazer REVIRAVOLTAS tão surpreendentes quanto as dos primeiros filmes. Ambiçãozinha mais sem futuro... E Cimino, até onde eu sei, nunca usou um clichê tão vagabundo (e com pouco fundamento na realidade, diga-se de passagem) quanto "religioso que perde a fé devido à morte de um ente querido" ou cometeu um erro tão crasso quanto "o ponto fraco dos vilões é H2O, a substância mais abundante do planeta".

    "Não é uma Sofia Coppola, por assim dizer. E que nada! Do bebê de Eraserhead o Lynch tem mais orgulho! haha."

    HAHAHA... Cara, é até imoral mencionar J-Lyn e Sofia Coppola na mesma frase. A Lynch não chega perto nem do Christopher Coppola. E a Sofia nunca tentou copiar superficialmente o estilo do pai para subir na vida. E tens razão: o bebê de "Eraserhead", ao contrário de J-Lyn, cumpriu sua função.

    Lori Singer: Mesmo sentimento. Eu era apaixonado por ela quando pirralho e, de repente, a moça desaparece inexplicavelmente. E depois de suas observações sobre Ava Gardner e Natasha Richardson, a coisa já está ficando assustadora. Lock up your daughters, lock up your wives: the Sandman is in town...

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