segunda-feira, 20 de abril de 2009

"Drácula de Bram Stoker"? Está mais para "Drácula de Anne Rice".

Versão curta: Eu odeio esse filme.

É muito fácil sentar o pau numa podreira de Al Adamson, feita nas coxas, com um orçamento de dez dólares, um roteiro escrito numa mesa de bar, maquiagem e efeitos especiais que até meu sobrinho de quatro anos consegue fazer e a óbvia intenção de faturar dinheiro fácil. Já este filme tem um elenco classe A (tudo bem, tem também o Keanu Reeves e a Winona Ryder, mas vá lá), um orçamento que, à época, era o mais alto da história para um filme de vampiros, o diretor de “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now” e, supostamente, a intenção de ser “a mais fiel adaptação da obra de Bram Stoker”. O resultado: um aborto cinematográfico.

Eu sei que esse “Drácula de Bram Stoker” é, em geral, respeitado pela crítica, tem uma legião de admiradores e é visto como uma “das mais fiéis adaptações do clássico de horror”, mas que se fodam. Eles não sabem do que estão falando. Minha teoria é que os fãs desta “obra” se deslumbraram com a bela fotografia, os cenários suntuosos e a excelente trilha sonora do filme e deixaram de prestar atenção ao resto. Ou é gente que tem ojeriza a filme de terror, mas gostou desta porcaria porque achou a obra “romântica” e imbuída de “qualidade artística”. Tenho que ser justo com as virtudes do filme. O visual é espetacular. A trilha sonora é de primeira. Tom Waits, lembrando um Boris Karloff entupido de cafeína, dá uma das melhores interpretações cinematográficas de Renfield, embora o personagem seja supérfluo. Sadie Frost é gostosa e passa boa parte do filme tentando tirar a roupa. Monica Bellucci aparece com os seios de fora. E é só. Excetuados esses raros momentos de alento, eu compararia esse filme a uma bosta folheada a ouro e cravejada de diamantes: pode até parecer bonita, mas não deixa de ser excremento.


A melhor maneira de sintetizar o espírito filme é parafraseando Ken Begg, do jabootu.net, em sua crítica de “Prophecy”, de John Frankenheimer. Segundo Begg, esse é o tipo de palhaçada que costuma acontecer quando se tenta colocar um diretor “de prestígio” para fazer um filme de terror. O artista acaba concluindo que tal tarefa não está à altura de seus talentos – afinal, “qualquer idiota sabe dar susto” – e resolve fazer algo “mais ambicioso”. É como pedir a um chef de cuisine para fazer um cheeseburger com fritas. Achando que tal tarefa seria um desperdício de suas habilidades, ele não se contenta em simplesmente atender a seu pedido. Não! Ele decide fazer uma genuína obra de arte culinária e, quando finalmente tal obra é colocada diante do cliente, que queria apenas um lanche rápido, este, ao invés de se desmanchar em orgasmos gastronômicos, como esperava o autor da iguaria, limita-se a fitar o prato, com uma expressão de incompreensão, indagando “que porra é essa?”. E acaba indo pedir um sanduba gorduroso no boteco da esquina, onde pelo menos o pessoal sabe o que você quer.


Deixemos uma coisa bem clara: eu não sou purista em relação a adaptações, nem faço objeção a um filme ambicioso que tenta transcender as limitações da obra em que se inspira. “O Poderoso Chefão” é uma obra-prima que supera, consideravelmente, o livro em que se baseia. “O Iluminado”, de Kubrick, tem apenas uma vaga e superficial semelhança com o livro de Stephen King e, em minha opinião, é um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. “Tubarão” é um excelente filme que tem quase nada em comum com o livreco tosco em teria se baseado. Até “Do Inferno”, que é, sem dúvida, uma PÉSSIMA adaptação da brilhante obra de Alan Moore e parte de uma premissa completamente oposta ao material em que alega se inspirar, pelo menos não tenta debochar de sua inspiração e funciona como um filme de suspense e terror.


O “Drácula” de Coppola, entretanto, nada tem em comum com os filmes supracitados. A atitude do diretor e do roteirista em relação à obra original é evidente: total desdém. Não se trata de uma situação em que eles leram o livro de Stoker (que é um clássico altamente influente e, em minha opinião, funciona como bom entretenimento, mas está longe de ser uma obra-prima) e pensaram: “essa história é interessante, mas a gente pode aperfeiçoá-la”. A atitude dos responsáveis por esta bomba em relação ao livro é “Poupe-me! Isso é uma porcaria. É uma velharia antiquada que ninguém mais lê, fruto de uma era ultrapassada cheia de pudores e machismo. Pra que adaptar essa bobagem, quando podemos fazer coisa muito melhor? Podemos modernizá-la! Adequá-la a nossas sensibilidades progressistas, à nossa visão de mundo sofisticada!” Porque, claro, Hollywood acha que é a epítome do pensamento progressista e da sofisticação. Ninguém tem uma visão de mundo mais sofisticada que aquela Meca do cinema. Eles são a vanguarda. E, por falar nisso, quantos blockbusters Hollywoodianos incluem, com naturalidade, um relacionamento amoroso interracial? Quero dizer, filmes que contenham um romance interracial e que não girem em torno dos conflitos gerados pelas “discrepâncias raciais” dos pombinhos? Will Smith e Eva Mendes em “Hitch” não conta. Eva Mendes, na ótica politicamente correta de Hollywood, não é branca; é “hispânica”. Só comentando. Quantas vezes alguém viu Denzel Washington fazer par romântico com uma atriz branca? “Progressista” é o caralho.


E assim, desprezando a idéia de fazer um “mero filme de terror”, Coppola e o roteirista Jim Hart decidem “reinventar” a obra, transformando-a num “romance gótico”, numa “meditação sobre a imortalidade e os desígnios misteriosos de Deus, a perda de fé e o poder redentor do amor”. Em resumo, quiseram fazer tudo, menos um filme de terror. Só que tiveram que colocar vampiros, porque, infelizmente, não dá pra contornar o fato de que um filme chamado “Drácula” tem que ter vampiros na história. Mas, como ninguém é de ferro, saíram divulgando que fizeram “a mais fiel adaptação da obra de Bram Stoker”. E um bando de manés acreditou e saiu repetindo.


Como é notório, não é por esse motivo (a suposta “fidelidade” ao material em que se baseia) que o filme se chama “Drácula de Bram Stoker”. É porque a Universal, inacreditavelmente, e não obstante ambas as obras já estejam no domínio público, afirma ser titular dos direitos autorais dos títulos “Drácula” e “Frankenstein”. Na lógica irretocável do estúdio, você pode colocar a palavra “Drácula” no título, desde que acompanhada de qualquer outra palavra. Mas só “Drácula” não pode. É deles.


Enfim, essa é a mais fiel adaptação do livro de Stoker. A única diferença é que Drácula, no livro, era, indubitavelmente, o vilão. E não era um vilão psicologicamente complexo. Era o Mal absoluto (com “M” maiúsculo), um predador implacável que via os humanos somente como alimento ou, no máximo, como objeto de diversão sádica. Um monstro que seqüestra bebês para servi-los às vampiras que vivem em seu castelo. O único interesse dele, ao se mudar para Londres, é ter abundância de alimento e disseminar o vampirismo. O livro é extremamente maniqueísta. Aqui, ele é um “anti-herói romântico”, que vai a Londres em busca da reencarnação de seu amor perdido. Fica patente a fidelidade à obra original.


Começamos com um prólogo “inovador”, que não está no livro e consiste numa distorção de um história sobre o voivoda romeno Vlad, o Empalador. Costuma-se pensar que Vlad, também conhecido como Drácula, serviu de inspiração ao vampiro de Stoker. Não serviu: Stoker já tinha seu livro bem delineado (o nome do vampiro seria, sutilmente, “Conde Wampyr”) quando leu sobre Drácula, gostou do nome, pegou alguns fatos históricos aleatórios e colocou nos diálogos do personagem, para dar mais verossimilhança à história. E só. Enfim, no prólogo, Vlad, que é um cristão devoto (na vida real, não era; ele basicamente contava com o apoio da Igreja Ortodoxa porque era politicamente conveniente; posteriormente, também por conveniência política, se converteu ao catolicismo), vai combater os turcos otomanos em nome do cristianismo e ganha a batalha. Os turcos, só de sacanagem, lançam um flecha seu castelo, carregando um bilhete segundo o qual Vlad tombou em batalha. Elisabetha, a esposa do príncipe, decide que a vida não fez sentido sem seu amado e se joga das torres do castelo (na esperança de ser “reunida com seu Príncipe no céu”, se esborrachando no chão (mas deixando um cadáver perfeitamente intacto, salvo um filete de sangue que escorre do canto da boca). Drácula, quando chega em casa e é informado do ocorrido, fica totalmente puto com o senso de humor escroto de Deus, renuncia a sua fé e mete uma espadada numa cruz. Uma cachoeira de sangue começa a escorrer da cruz, Drácula bebe o sangue e BAM! Pronto, virou vampiro, só pra passar a eternidade sacaneando Deus.


Não sou cristão, mas tenho que questionar a inteligência de Elisabetha e o bom senso de Vlad nessa cena. Em primeiro lugar, como diabos cometer suicídio a faria “se reunir com seu amado no céu”? Que eu saiba, em qualquer vertente do cristianismo, suicídio leva ao inferno. Pelo que eu sei, no espiritismo, o suicídio também não é um caminho para a felicidade. Não vou me deter pesquisando a posição de outras religiões sobre o suicídio, pois o roteiro segue uma teologia (se é que se pode falar nisso) cristã. Então, Vlad não devia se revoltar com Deus, mas com a burrice de sua amada, que, nas circunstâncias, tomou a decisão mais retardada possível. Além disso, desde quando blasfemar e fincar uma espada numa cruz é o caminho para se tornar um morto-vivo (condição que o filme, claro, pinta como o cúmulo do sofrimento, mas que, em minha opinião, seria massa)? Blasfêmias muito piores já foram cometidas ao longo da história e nem por isso há vampiros saindo pelo ladrão por aí. Eu mesmo já blasfemei uma porrada de vezes e até agora, nada de imortalidade e superpoderes. Vi esse filme pela primeira vez quando era pirralho. Inspirado, tentei apunhalar uma cruz e nada. É verdade que era só um crucifixo de madeira e eu usei um canivete suíço, de modo que o problema, talvez, tenha sido minha falta de ambição, mas acho improvável. Nem a pau vou entrar numa Igreja com uma espada e correr o risco de levar um baculejo da polícia pra tirar a dúvida.


Enfim, 400 anos mais tarde, Jonathan Harker vai ao Castelo Drácula vender uma casa ao conde. Lá chegando, pouco a pouco começa a desconfiar que há algo de errado com seu anfitrião, até, gradualmente, descobrir que este não é um ser humano normal, mas uma criatura da noite. Quer dizer, no livro é assim, pois Stoker descreve Drácula como um ancião que, superficialmente, parece ser normal, até você prestar atenção em certos detalhes, que, à primeira vista, passam despercebidos - tais como o fato de ele ter dentes mais afiados que a regra, orelhas levemente pontiagudas, unhas afiadas, palidez cadavérica, um perpétuo mau hálito, além de nunca aparecer durante o dia e, pelo menos diante de Harker, nunca comer. Já o Drácula de Coppola...


Puta que o pariu! Tenha santa paciência! Que porra é essa? Qual é o propósito dessa palhaçada toda? Em que universo um aristocrata eslavo de século XIX se veste desse jeito? Basicamente, a costume designer Eiko Ishioka decidiu adotar um estilo “teatro Kabuki”. Essa decisão foi inspirada por suas origens nipônicas. E daí? Isso não é justificativa. Eu sou nordestino. Seguindo essa lógica, se eu fosse o figurinista do filme, Drácula apareceria com trajes de cangaceiro. Isso faz sentido? Poupe-me. E o que mais me irrita é que praticamente todo crítico que resenha o filme finge que não achou esse negócio risível. Sempre se fala sobre como a maquiagem e o figurino conferem um aspecto “antinatural” ao vampiro, realçando sua dissociação da humanidade. Não, não é esse o efeito que o aspecto do Drácula de Coppola provoca. O efeito que ele provoca é vontade de rir e fulmina totalmente a imersão do espectador no filme – é óbvio que se trata de um cara coberto de maquiagem pesada e usando uma peruca bisonha e um quimono berrante. E o pior de tudo é que, como o “Drácula velho”, a interpretação de Gary Oldman seria bastante convincente, se não fosse totalmente anulada por esse aspecto de destaque de escola de samba. Podiam muito bem ter chamado o Ney Matogrosso da era “Secos e Molhados” para interpretar o conde. Seria igualmente eficiente.


Em síntese: em momento algum dá pra acreditar que Harker, conservador jurista vitoriano, conseguiria levar a sério esse traveco Kabuki. Mesmo um Harker interpretado por Keanu Reeves, que é tão verossímil como um advogado inglês do século XIX quanto John Wayne como Genghis Khan. Nem vou me dar ao trabalho de esculachar a interpretação do Keanu, porque isso é bater em cachorro morto – até os fãs do filme acham a interpretação do rapaz uma porcaria; até Coppola lamenta a escolha do ator.


Enfim, Harker chega ao Castelo Drácula, vende a casa e derruba um retrato de sua noiva, Mina. Drácula vê o retrato e constata que a moça é idêntica à sua finada esposa. Aflora o sentimento. Keanu vaga pelo castelo, é atacado pelas três “noivas” do vampiro, Monica Bellucci mostra todo seu talento (ÊBA!). Drácula aparece para estragar o oba-oba, entrega um bebê para saciar, temporariamente, a sede de sangue de suas companheiras, e Harker surta geral, mostrando toda a pujança dramática de Keanu Reeves, numa cena hilária.


A fim de se livrar da concorrência, Drácula decide deixar Harker preso em seu castelo, com suas três companheiras vampiras, e parte para Londres em busca do amor.

Em Londres, encontramos Mina (Winona Ryder, pouco mais convincente que o Keanu, mas só “pouco”) e sua gostosa amiga Lucy Westenra. Lucy está deslumbrada porque recebeu três pedidos de casamento. Os pretendentes são Arthur Holmwood, um aristocrata boçal; Jack Seward, médico nerd dono de um manicômio, e Quincy Morris, texano inspirado no Marlboro Man. Tudo bem que Lucy é gostosa, mas eu admiro a bravura de um homem que tenha coragem de pedi-la em casamento. Já vi prostitutas de beira de esquina se portando com mais decoro que a personagem. O roteirista tenta retratar Lucy como uma jovem audaciosa e independente para seu tempo, mas ela acaba saindo como uma ninfomaníaca psicótica, prestes a ter um orgasmo a cada cinco segundos e falando em sexo o tempo todo. A Dercy Gonçalves era mais recatada que essa moça. Vale lembrar que a Lucy do livro nada tem de audaciosa ou independente. Ela é, basicamente, uma chapeuzinho vermelho. A moça é tão sensível que acaba se entristecendo com os três pedidos de casamento, pois, inevitavelmente, terá que “partir o coração” de dois dos pretendentes, que são todos rapazes do mais elevado caráter. Mas tudo bem, dá pra entender que o roteirista queira dar uma personalidade mais distinta à personagem (mesmo porque Stoker é péssimo na caracterização). Agora, fazer uma personagem do século XIX se comportar de uma maneira que seria considerada escandalosa nos dias de hoje é uma idéia simplesmente asinina.


Bom, como no livro, o navio que traz Drácula e seus caixões chega na Inglaterra com toda tripulação morta, mas parece que ninguém dá muita atenção a isso. O vampiro parte logo para o vamos ver e, transformado em lobisomem, procura sua primeira vítima, que calha de ser Lucy. Usando seus superpoderes, o vampiro a atrai para um cemitério e manda ver com a moça, antes de mordê-la. Sim, o Drácula-lobisomem come a mocinha antes de mordê-la. É interessante que o filme passe o tempo todo fazendo aquela surrada abordagem do vampirismo como uma metáfora para a sexualidade. O problema é que a metáfora meio que perde o propósito quando os personagens estão literalmente fazendo sexo. Parabéns pela sutileza, Francis Ford Coppola.


Blábláblá, Lucy fica doente, Seward não consegue identificar a causa e chama seu velho mentor, Professor Abraham Van Helsing, especialista em doenças obscuras. Van Helsing é interpretado por Anthony Hopkins, que, por breves instantes, passa a impressão que vai emprestar ao filme uma bem-vinda dignidade. Mera ilusão. Francamente, acho que o Van Helsing do livro é um personagem meio ridículo. A primeira vez que li uma versão em inglês de “Drácula”, tive muita dificuldade em entender os diálogos do Van Helsing. O homem mal consegue conjugar um verbo e, francamente, é muito difícil levá-lo a sério como um acadêmico de renome. A interpretação cinematográfica do personagem mais fiel ao livro é o Mel Brooks em “Drácula: Morto, Mas Feliz”. Seria perfeitamente compreensível que alterassem o personagem para torná-lo menos caricato – foi o que Peter Cushing e Frank Finlay fizeram. Mas Hopkins prefere seguir outra direção: seu Van Helsing consegue, sim conjugar verbos corretamente e usar artigos, mas passa o filme todo se comportando como um bufão, soltando piadinhas sem graça e grosserias, passa uma cantada em Mina e, num momento “humorístico” que acaba por fulminar toda a dignidade que ainda restava ao personagem, encoxa Quincy Morris.


Como de praxe, Van Helsing faz algumas transfusões de sangue, solta pistas enigmáticas sobre a origem da “doença” e enrola até revelar que suspeita de que Lucy seja vítima de um vampiro, para a incredulidade de Seward, Holmwood e Morris.


Entrementes, o bom conde encontra Mina, confirmando que esta é a reencarnação de seu amor perdido. Após uma série de episódios que, numa ótica “moderna” (convenientemente deixada de lado, por ora, pelo filme), só posso descrever como assédio sexual dos mais inconvenientes, a moça acaba sucumbindo ao chamado de suas vidas passadas e se entrega aos encantos do exótico estrangeiro:


Algumas observações sobre toda a baboseira do “amor reencarnado”, que muitos apregoam ser a “inovação” do filme em relação à livro. Basicamente, não é. James Hart plagiou a idéia do roteiro do “Drácula” de Dan Curtis, de 1973, escrito por Richard Matheson (um romancista e roteirista de terror e sci-fi que tem mais talento no nariz do que Hart tem na família). A idéia de um monstro atraído por uma mulher que é a reencarnação de seu amor do passado, aliás, está presente na imensa maioria dos filmes de múmia (desde o clássico de 1932, com Karloff). A visão de Drácula como um personagem imbuído de sex appeal é bastante comum no cinema (em agudo contraste com o livro, que pinta o Conde como uma criatura, na melhor das circunstâncias, sinistra e, na pior, absolutamente asquerosa) e a inversão de papéis, convertendo o vilão em anti-herói romântico, já foi feita (com resultado muito superior, creio eu) no Drácula de 1979, estrelado por Frank Langella. E, finalmente, essa história de “amor de vidas passadas” já rendeu o que tinha que render. É um dos artifícios mais manjados e preguiçosos e devia ser aposentado até o fim dos dias. Trata-se do “Nissin Miojo romântico”. Coisa de roteirista que quer colocar um romance na história, mas não tem tempo, paciência ou habilidade para desenvolver o relacionamento entre os personagens de forma convincente. O filme em análise é o exemplo típico: Mina, até então, estava comprometida com Harker, aparentemente apaixonada pelo noivo e sem nenhum outro interesse. De repente, surge um estrangeiro esquisito que passa a segui-la e assediá-la insistentemente, até convencer a moça a ir ao cinema, deslumbrando-se com essa maravilhosa inovação científica (Meta-linguagem rasteira, a muleta do cineasta pretensioso!), doma um lobo fugido do zoológico (essa habilidade, tenho que admitir, é muito fodona, mas tenho minhas dúvidas sobre seu potencial afrodisíaco), leva a moça para jantar e solta umas abobrinhas mela-cueca sobre a beleza de sua terra natal e sobre a “princesa que foi roubada de seu antigo príncipe”, serve absinto à jovem (a versão vitoriana do rohypinol) e pronto: Mina começa a ter visões sobre sua “vida passada” e aflora o amor.


Não vou nem perder meu tempo discorrendo sobres as imbecilidades teológicas do filme. No prólogo, Vlad era cristão e se rebelou contra o Deus cristão; não sei, entretanto, o que cristianismo tem a ver com reencarnação, mas tenho a impressão de que passei mais tempo pensando nisso do que Hart ou Coppola.


Tudo é lindo e maravilhoso, até que Harker consegue fugir do castelo, cair num rio e, sabe-se lá como, chegar a um convento (admito que isso não é culpa do roteiro; o livro também nunca deixa muito claro como ocorre essa “fuga”). Não sei que raios levam o homem a trocar Monica Bellucci e duas vampiras taradas, pela possibilidade de se reencontrar com Winona Ryder, mas cada um sabe de si. Pelo menos respeito a fidelidade do personagem, que demonstra firmeza de caráter em face à tentação. Pena que noiva do mancebo não compartilha de tamanha integridade. Será que ele teria fugido se soubesse que Mina se desmanchou diante do primeiro mané de cartola que apareceu? Jamais saberemos. Enfim, Mina recebe uma carta das freiras, resolve reencontrar o noivo e manda uma carta para “Vlad” informando, para ser sucinto, que o bem-bom acabou. O conde dá um faniquito hilário, digno de uma menina gótica de treze anos que levou um chega-pra-lá do primeiro namorado.

Frustrado, o vampiro deixa de frescura e vai para a casa de Lucy, desce a pancada em Morris e Holmwood (Vigilância de qualidade é isso aí!), profere um discurso pretensioso de fazer inveja a Zandor Vorkov, vira um lobo (Por que? Porque fica estiloso!), finalmente mordendo e dando cabo da moça. Tudo isso é editado de forma intercalada com cenas do casamento de Mina e Harker (sim, eles decidiram se casar no convento mesmo) numa sequência que mostra que o homem que dirigiu “O Poderoso Chefão” também pode, sim, fazer cinema com toda a perícia de um videoclipeiro. E, Drácula: boa tática. Se há uma maneira eficaz de reconquistar uma mulher é matando brutalmente a melhor amiga dela.


Cabe agora ao Van Helsing mostrar aos seus companheiros que o pesadelo não acabou: após o velório, ele os leva à cripta onde Lucy foi sepultada, à noite, revelando que o caixão da finada está vazio. Enquanto nossos heróis estão ponderando esse mistério, a pseudo-morta aparece, carregando uma criancinha que está prestes a vitimar. A princípio, os pretendentes da moça estão perplexos, acreditando que houve algum engano e ela foi enterrada viva. Mas tal ilusão não perdura. Logo, fica evidente que a Lucy que está agora diante deles não é a mesma. Ela está... com caninos afiados e uma pesada maquiagem branca. A diferença é basicamente essa. No livro, a pura e inocente Lucy, após vampirar, se comporta de forma que, para os padrões vitorianos, era extremamente lasciva e vulgar, deixando clara a mudança de personalidade. Aqui, Lucy já aputalhada em vida, então a única diferença são os dentes e a maquiagem. Ela tenta enfeitiçar Holmwood, mas Van Helsing, intrépido, lasca um crucifixo na cara da criatura demoníaca, que, acuada, retorna para seu caixão, não sem antes dar uma violenta e inexplicável golfada de sangue em seus algozes (“homenagem” a “O Exorcista”, segundo o diretor). Resolvido o conflito, os heróis fincam estaca no coração da moça e cortam sua cabeça. Justiça seja feita, a cena da execução é bem executada e a transição da cabeça decepada para um suculento filé mal passado que Jonathan Harker está jantando é o único momento de humor negro genuinamente eficiente.


E aqui, com a volta de Jonathan e Mina e a união destes com Van Helsing e seus três companheiros, é que o filme realmente se embanana. Porque, embora o roteiro opte por retratar Drácula como um anti-herói romântico, torturado pela memória do amor perdido, Hart parece também ter gostado da idéia da dos caçadores de vampiros se reunindo para combater o Maligno. E o filme fica, assim, em cima do muro, sem saber que partido tomar. Aliás, aproveitando a oportunidade, é irônico que Coppola se gabe de ter feito a única adaptação que “mantém todos os personagens” – tal “fidelidade” torna evidente a sabedoria de adaptações anteriores, que geralmente condensam Seward, Morris e Holmwood em um ou dois personagens: a presença dos três é completamente desnecessária, pois nenhum deles ultrapassa a densidade de um estereótipo – como eu disse antes: médico geek, cowboy texano e aristocrata pedante. No livro, embora a caracterização de Stoker seja fraquíssima, é fácil sentir uma certa empatia pelos três personagens, que, embora superficialmente, são retratados, pelo menos, como sujeitos decentes e amigos leais. Aqui, os personagens causam tão pouca impressão que só servem para arrastar a duração do filme.


Ah, e eu esqueci de mencionar que Jonathan e Mina, ao voltarem para Londres, se deparam, por acaso, com Drácula na rua. Mina não vê seu “príncipe”, mas Jonathan, de uma carruagem, vê o conde e dá um piripaque, reconhecendo a criatura da noite e observando que ele “ficou mais jovem!” O que é estranho, pois, ao contrário do que ocorre no livro, não há qualquer semelhança física entre o Drácula velho e o Drácula jovem.


Foi só uma tentativa de ser fiel ao texto que, aqui, não funciona, porque no livro, Drácula realmente rejuvenesce à medida que vai consumindo mais sangue, mas não (como ocorre no filme de Coppola) muda radicalmente de aparência. O “Conde Drácula” de Jess Franco, embora seja uma tosqueira geral, pelo menos, nesse aspecto, acompanhou o livro com fidelidade.


Enfim, voltando aos intrépidos caçadores de vampiros: combinando suas histórias, eles acabam descobrindo a toca do monstro: a “Abadia de Carfax”, próxima ao manicômio de Seward. Ao som de uma bombástica trilha sonora, para lá vão os heróis, consagrar com hóstia e água benta os caixões (ou melhor, caixotes) que Drácula trouxe de sua terra natal para impedir o vampiro de usá-los como abrigo. Mina fica hospedada no sanatório de Seward, onde conhece Renfield que, inexplicavelmente, sente-se compelido a advertir a moça que vá embora e se salve e tenta convencer Seward a tirá-lo de lá (o filme não deixa claro, mas a presença de Renfield no asilo permite a entrada de Drácula no prédio). E eu sei que não mencionei o personagem de Renfield antes, mas é porque a presença dele no filme, apesar da boa interpretação de Waits, é, fora essa cena, completamente desnecessária: ele se limita a dar faniquitos, fazer discursos desconexos sobre o “mestre” e comer insetos. As advertências do lunático, entretanto, são ignoradas, e Mina fica no manicômio enquanto os cinco mosqueteiros vão cumprir sua missão.


E Drácula, aproveitando o ensejo, resolve adentrar o quarto onde Mina dorme, reiterar seu amor e revelar a sua verdadeira identidade à moça, em um momento totalmente “emo” (“Não há vida neste corpo. Eu sou o monstro que homens que respiram destruiriam. Eu sou Drácula. Ai de mim, condenado a uma eterna existência de trevas e solidão! Que eu, diga-se de passagem, escolhi voluntariamente, porque minha esposa se matou e eu fiquei puto com Deus.”). E Mina, após um rápido momento de freakout (“Seu puto! Você matou minha melhor amiga só por causa de uma dor-de-cotovelo!”), acaba ouvindo seu coração, se rendendo ao amor e declarando seu desejo de ficar eternamente ao lado de seu amado. E segue-se uma ridícula cena romântica, em que Drácula faz charme, alegando não querer levar a mocinha para uma “existência de horror” (Deixe de conversa! Por que você ficou atrás dela esse tempo todo, então? Só pra tirar uma casquinha?). E quer saber de uma coisa: que se foda quem escreveu esse negócio estapafúrdio. Essa “crise de consciência” de Drácula é totalmente impossível de engolir. Primeiro, o cara passa parte do filme atormentando Harker no castelo, servindo alegremente um fofo bebezinho de jantar pra suas concubinas vampiras (com direito a gargalhada de Dr. Evil) e matando Lucy só porque levou um fora da namorada e, de repente, ele se torna esse paradigma sensibilidade e consciência pesada? Que indecisão da porra é essa? Roteirista que quer ser fiel ao livro e “subverter” o material de origem ao mesmo tempo. E por que essa incoerência? Porque a única chance de o filme poder alegar “originalidade” é seguindo todos os principais pontos do livro; afinal, se ele simplesmente se limitasse a retratar Drácula como um anti-herói romântico e seguisse essa idéia com um mínimo de coerência, seria, em essência, um versão recauchutada e mais cara do Drácula de John Badham, que pelo menos segue a premissa de que “Drácula não é só um monstro sanguinário; ele também quer amor” com um mínimo de consistência. E sem fazer, em momento algum, o vampiro parecer um mané indeciso e chorão. E, de lambuja, ainda consegue ser assustador (se não acredita, veja a cena em que Van Helsing e Seward encontram a Lucy vampira naquele filme).


Após muita lenga-lenga, Drácula acaba mordendo Mina e fazendo-a beber seu sangue, em um momento que, sem dúvida, o cineasta esperava ser romântico e comovente (a trilha sonora deixa óbvia essa intenção), mas que, na verdade, é constrangedor.

Justamente no momento do oba-oba, Van Helsing e sua turma aparecem, Drácula se emputece e vira um morcego gigante totalmente fodão, faz um crucifixo pegar fogo e se transforma numa porrada de ratos, fugindo do recinto. O mais cômico na situação toda é que, quando o vampiro vira um monstro-morcego, o ninguém parece se assustar. Quando ele vira uma pluralidade de ratos, contudo, a reação deles é hilária: todos recuam, fazem expressão de “eca” e só faltam sair dando pulinhos e gritando “Ui! Socorro! Que nojento!”. E Mina, provavelmente para enrolar os bestas, começa a chorar e exclamar que está “Impura! Impura!”. Mais uma tentativa de ser fiel ao livro que não fez sentido no contexto. A primeira vez que li o texto, quando eu tinha uns dez anos de idade, achei a cena da “troca de sangue” profundamente incômoda e perturbadora, mas não consegui identificar por que. Mais tarde, acabei percebendo o motivo: a cena, no livro de Stoker, é o equivalente vampírico a um estupro, através do qual o estuprador, dolosamente, transmite uma doença à vitima. A atitude de Drácula, ao atacar Mina é, essencialmente, “Ah, então é você quem está ajudando esses porras a me caçar? Pois olha só o que eu vou fazer com a putinha deles. E não resista que eu sei que você vai gostar”. Daí toda a reação histérica da personagem. Aqui, a reação de Mina é completamente sem nexo: a mordida e a troca de sangue foi completamente consensual. Aliás, ela insistiu para que Drácula o fizesse. Então só restam três interpretações: ou ela está só fazendo uma encenação para enganar os bestas, ou Mina é uma idiota cabeça de vento que não sabe o que quer, ou James Hart e Francis Coppola não sabiam o que queriam fazer com a história.


Mais uma coisa: o ataque à Mina, no livro, traz tensão à história. Até então, os heróis estavam muito seguros de si, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, conseguiriam localizar e destruir o conde. Com Mina mordida, tudo se torna mais urgente, pois eles têm que localizá-lo antes que a transformação da moça se complete e ela se torna uma vampira. Aqui... francamente, fica meio difícil decidir que atitude o espectador deve adotar: torcer para os caçadores de vampiros encontrem Drácula ou torcer para que o romance da mocinha e do vampiro sofredor se concretize? Francamente, eu acabo não me importando com o resultado. Mina foi mordida voluntariamente e quer “se unir” ao “seu príncipe”. Apesar de todas as tentativas de despertar a solidariedade do espectador por Drácula, este continua sendo um monstro que mata criancinhas e a melhor amiga de sua “amada” por causa de uma dor-de-cotovelo. Por outro lado, os caçadores de vampiros são, na melhor das hipóteses, palhaços (Van Helsing, Morris), manés (Harker, corno manso, e Seward, nerd do século XIX) ou simplesmente antipáticos (Holmwood). Mais uma vez, é risível a “inovação” de colocar todos os personagens do livro no filme. No livro, por mais fraca que seja a caracterização, o leitor acaba criando uma certa empatia por eles – todos são, basicamente, sujeitos decentes. No filme, eles são estereótipos sem qualquer densidade. Minha conclusão: que se danem. Tanto faz como a história vai terminar. Não me importa mais.


Prosseguindo, Van Helsing hipnotiza Mina para, através do “vínculo psíquico” que se formou entre ela e o vampiro após a mordida, descobrir o paradeiro de Drácula. É interessante observar, aqui, como a tentativa de “modernizar” as personagens femininas saiu totalmente pela culatra. Tudo bem, no livro, Lucy é só uma donzela indefesa, ansiosa para encontrar um cônjuge para protegê-la. Mina, contudo, apesar de todas as baboseiras machistas que Stoker utiliza para articular tal fato (coisas como “Madame Mina tem o coração de uma mulher aliado ao cérebro de um homem”) é, claramente, a personagem mais inteligente do grupo. Como todo mundo já deve saber, a narrativa do livro de Stoker é feita através da vários diários e cartas dos personagens. É Mina quem tem a idéia de reunir os diários de todos os personagens, datilografá-los e organizá-los cronologicamente, a fim de identificar os padrões de comportamento do vampiro. É ela quem, após ser mordida, decide que sua participação nas reuniões do “conselho de guerra” é perigosa, pois Drácula pode ler seus pensamentos. E é ela – não Van Helsing – quem sugere que a hipnose pode ser um meio eficaz de descobrir os planos do conde. É, enfim, uma personagem feminina surpreendentemente competente para os padrões da época, mormente quando se considera que o livro foi escrito por um homem bastante conservador. Ela contribui ativamente para o desenrolar da trama, ao invés de ser apenas uma mocinha indefesa. Não à toa, quando Alan Moore escreveu “A Liga Extraordinária”, ele colocou Mina Harker como a líder do grupo: a capacidade de organização e calculismo da personagem a tornam ideal para tal função. Coppola e Hart, entretanto, não conseguiram enxergar nada disso. Eles partiram, imediatamente da premissa que o livro era antiquado e baseado em uma visão de mundo ultrapassada. Tentaram “modernizar” a história e torná-la “psicologicamente complexa” transformando Lucy numa ninfomaníaca e inventando esse “romance” entre Mina e o vampiro. O que eles conseguiram, entretanto, foi ignorar tudo de interessante na personagem e a reduziram ao “interesse romântico” da história. Ironicamente, a Mina do filme é uma personagem cabeça de vento, frágil e indecisa, muita mais parecida com a mocinha romântica típica de um livro de José Alencar do que a personagem do livro de Stoker.


Divagações à parte, Van Helsing hipnotiza Mina, descobre que Drácula está voltando para a Transilvânia e lá vão eles Europa adentro, em perseguição ao vilão. O Professor e Mina chegam ao castelo com Mina antes dos demais caçadores de vampiros e resolvem acampar enquanto os outros não chegam. Mina começa a vampirar, baixa a pomba-gira e tentar seduzir o velho (o negócio é ridículo; só faltava “Let’s Get it On” de Marvin Gaye na trilha sonora), que, após um momento de fraqueza (Massa! Tudo que eu precisava era ver Anthony Hopkins dando uns malhos em Winona Ryder. E é interessante ver como o “alicerce moral” dos “heróis” da história só precisa ver um decote pra dar uns pegas na mocinha), resiste à tentação (ou melhor, toma um susto quando Mina tenta atacá-lo e acaba decidindo que o sexy-time talvez não seja uma idéia tão interessante). Ambos são atacados pelas “noivas de Drácula”, mas Van Helsing as repele com um plano engenhoso: traçando um círculo de fogo ao seu redor (no livro, ele traça uma trincheira e a enche de pedaços da hóstia; aqui, as vampiras são mais ou menos como escorpiões; basta um pouco de fogo é tá seguro). Funciona. Pode não fazer sentido, mas fica uma imagem estilosa, e é isso que importa.


No dia seguinte, Van Helsing vai ao castelo, dá cabo das três vampiras e joga as cabeças num precipício, gritando, melodramaticamente, “DRACUL! DRACUL! DRACUL!” Sinto muito, mas Vlad DRACUL era o pai de Vlad DRÁCULA. Você se embananou aí, colega.


Perto do anoitecer, um bando de ciganos chegam carregando o caixão de Drácula, com Holmwood, Harker, Seward e Morris no encalço. Balas voam, trilha sonora bombástica ecoa, Drácula evoca uma tempestade, mas não sai de seu caixão pra se defender, porque ainda é dia. A questão é: por que não? O filme deixa bem claro que, “ao contrário da crença popular, os vampiros podem se locomover durante o dia”, o que também acontece no livro. Ocorre que, no livro, em determinados momentos (sabe-se lá por que), embora não diariamente, o vampiro precisa descansar em seu caixão. Nesses momentos, o morto-vivo fica indefeso, em estado de catalepsia, incapaz de esboçar qualquer reação. É o que acontece na versão literária dessa cena. No filme, entretanto, é evidente que Drácula está desperto e lampeiro: ele passa o tempo todo resmungando no caixão, ansioso. Logo, não faz sentido ele esperar o pôr-do-sol para sair e se defender.


Os destemidos aventureiros dão cabo dos ciganos, Morris leva uma facada nas costas, mas consegue abrir o caixote do vampiro, justamente quando o sol se põe. Drácula velho sai do caixão, numa explosão de madeira pra todo lado, trajando uma indumentária ainda mais espalhafatosa que o quimono vermelho; Morris corta sua garganta, leva uma porrada que o faz voar longe e Harker mete um facão no peito do vampiro. Quando ele está prestes a dar o golpe de misericórdia, Mina aparece, ameaçando-o com uma espingarda: “Quando chegar minha hora, você fará o mesmo comigo?”, indaga a mocinha. “Provavelmente”, pensa o corno manso, mas, certamente refletindo sobre a prudência de tal resposta diante de uma arma carregada, responde que “não”.

Mina arrasta o Drácula moribundo pra um recinto do castelo. Os caçadores de vampiros tentam detê-la, mas Harker os impede, declamando “Não! Nosso trabalho aqui está encerrado. O dela apenas começou!” Que porra ele quer dizer com isso? Mais um momento pretensioso e sem sentido, através do qual o roteirista tenta contornar, com picaretagem, o inevitável (numa versão plausível, Mina ia ser atacada pelos caçadores de vampiros, que terminariam o serviço com Drácula e procederiam a cobrir a mocinha de pancadas). E, enquanto Morris morre, Van Helsing filosofa: “Nós nos tornamos os loucos de Deus.” Puta merda... quanta baboseira afetada e sem sentido.


O recinto para aonde Mina carregou Drácula, vejam vocês, é a capela onde Vlad, no prólogo, renunciou a Deus a se tornou um vampiro (Genial! É como se tudo fosse parte de um ciclo traçado pelo destino!). A mocinha chora e Drácula lamenta “Onde está seu Deus? Ele me abandonou?” Mais uma vez, fricotagem emo que não faz o menor sentido. Se a memória não me falha, foi o contrário: Drácula é que ficou puto e declarou guerra a Deus. Francamente, o vampiro está se comportando como um adolescente que foge de casa e depois fica se lamuriando porque seus pais não estão tentando encontrá-lo. “Meu amor”, choraminga a jovem, beijando seu amado imortal. Subitamente, todas as velas da capela se acendem, uma luz celestial brilha sobre o casal, o buraco na cruz em que Drácula tinha fincado a espada, no início do filme, se fecha, e o vampiro passa por uma regeneração, adquirindo uma aparência jovem e uma expressão de paz celestial. “E ali, na presença de Deus, percebi como meu amor poderia nos libertar dos poderes das trevas”. Como, exatamente? Na base do sofisma? “Nosso amor é mais forte que a morte!”, continua a moça, com a profundidade que só uma fã de “Crepúsculo” pode ter. “Dê-me paz!”, pede, finalmente, o trágico vampiro, e Mina, após alguma hesitação, saca o facão fincado no peito de seu amado e decepa sua cabeça, extinguindo, para sempre, a existência do sofrido morto-vivo.


E eis que nossa heroína olha para o teto, e vê um painel mostrando Vlad e Elisabetha juntos. Isso é lindo! Significa que eles, finalmente, estão reunidos no além. Tipo “O Morro dos Ventos Uivantes”. Só que não estão. Mina é a reencarnação de Elisabetha e continua viva. Pela lógica, Drácula vai ter que ficar coçando o saco por mais algumas décadas até reencontrar sua amada.


Pois é, trata-se de um filme idiota, inconsistente e pretensioso. É difícil acreditar que esse pastel de excremento foi feito pelo mesmo homem que dirigiu “O Poderoso Chefão I e II” e “Apocalypse Now”. O roteiro toma a decisão imbecil de tentar ser, simultaneamente, fiel ao livro e retratar Drácula como um anti-herói trágico, o que é impossível de se fazer sem sacrificar a coerência. É mais ou menos como alguém fazer uma biografia extremamente fidedigna de Hitler, só que ignorando o racismo monstruoso do indivíduo. Ou fazer uma adaptação cinematográfica da Bíblia, mudando apenas o fato de que Satanás não é o vilão da história, apenas um sofredor injustiçado. O resultado é um filme em que não funciona nem como romance, nem como história de horror; onde, aparentemente, ninguém está errado, mas cujos autores, obviamente, esperam que o espectador tome partido de alguém – só que nem eles mesmos parecem ter certeza de quem. E como nenhum dos personagens é particularmente empolgante, o efeito provocado é o inverso: francamente, não dá para sentir empatia por nenhum dos personagens. A única virtude do filme é o visual (além de Monica Bellucci e Sadies Frost seminuas), mas, se só isso for necessário para a excelência de um filme, Zack Snyder é, de fato, o “visionário” anunciado pelos trailers de Watchmen.


Não veja esse filme e, se já viu e gostou, reveja e perceba como se enganou. Se você quer um filme que retrate Drácula como um “anti-herói romântico”, veja a versão de John Badham, de 1979, que o faz com coerência e sem fazer o vampiro parecer um mané chorão. Se quer ver uma “reinvenção” realmente singular da história e visualmente arrebatadora, veja o “Nosferatu” de Herzog. Se que uma versão muito sinistra da história, com visual igualmente ímpar, veja o “Nosferatu” de Murnau. Se quer a adaptação mais fiel do livro, veja “Count Dracula” (1977) da BBC, dirigido por Phillip Saville e estrelado por Louis Jourdan. E, se você quiser ver o Drácula mais fodão do cinema, veja “Vampiro da Noite” (1957), de Terence Fisher.


E Coppola devia se dedicar a sua vinícola em tempo integral.

16 comentários:

  1. Eu também acho esse filme apenas razoavel. Gostei da atuação de Oldman e Ryder, da fantástica direção de arte e mais uma meia dúzia de cenas legais. Porém, o filme traz alterações gravissimas em relação ao livro que não servem para nada, as atuações de Reeves e até mesmo de Hopkins são fracas e personagens como Reinfield e os três pretendentes de Lucy são completamente desperdiçados (metade da novela era contada pelo ponto de vista do Dr. Seward).
    Ou seja, ainda espero por uma adaptação fiel a novela de Stoker, mas o meu Drácula predileto continua sendo o NOSFERATU de 1922 (esse sim um filmaço). 3 estrelas.

    ResponderExcluir
  2. Em minha opinião, melhor adaptação (embora ainda traga algumas alterações) é a minissérie da BBC, "Count Dracula", de 1977. Infelizmente, o filme nunca foi lançado aqui no Brasil, onde é praticamente desconhecido. Mas pode ser importado (eu recomendo o site cdpoint.com.br) ou baixado via torrent. A produção é meio tosca (parte do filme é em videotape e parte em película), mas as interpretações são excelentes (acho o Frank Finlay o melhor Van Helsing do cinema, até mesmo que o Cushing) e o roteiro é extremamente fiel ao livro.

    ResponderExcluir
  3. Gostei da parte do texto que uma hora vc diz "blá, blá, blá". Pra quem foi isso exatamente? Certamente não para "encurtar" esse texto interminável, né? rsrs

    Eu não consigo dizer por onde eu discordo mais de vc. Eu nem vou comentar o fato de vc fazer parecer que o filme não é fiel ao livro já que não serei o primeiro a dizer que se trata DO filme MAIS fiel ao livro do Stoker em toda a história do cinema, sou apenas mais um entre tantos a concordar. Já vi e revi o filme milhares de vezes e cada vez eu gosto mais. E além de fiéis, ele tb é um dos retratos mais assustadores e marcantes do personagem. Mané chorão?? Gary Oldman arranca o braço do Christopher Lee e enfia no rabo do Bela Lugosi a qualquer hora do dia! Gary Oldman É o Drácula! Nenhum Drácula conseguiu ser tão poderoso ANTES ou DEPOIS da atuação do Oldman, que é sem dúvida nenhuma uma das mais poderosas e sinistras de todos os tempos (Junto com suas outras caracterizações de Sid Vicious, Beethoven e Lee Harvey Oswald de personagens famosos). O fato dele ser mais humanizado não quer dizer nem um pouco menos fodão ou assustador, muito pelo contrário. É sua humanidade, ou seja, inveja pelo personagem do Reeves, entre outros sentimentos como ódio e vingança que fazem dele ser ainda mais assustador com seus poderes sub-humanos. Isso sem deixar o filme ganhar sua dimensão muito maior que qualquer continho de fadas obscuro (E olha que eu adoro a obra do Stoker) Mas não é só ele de fantástico no filme, a pequena participação do Hopkins é o suficiente para fazer um dos mais interessantes e ensaidecidos Van Helsing da história do cinema! E até a Winona Rider de quem não sou nem um pouco fã, está ótima no papel. Mais solta.

    E tb ainda é o mais bem feito, atuado e assustador filme do personagem. E um dos melhores filmes de horror de todos os tempos, fácil, e a última obra-prima do Coppola (Até Youth Without Youth q ainda não vi)

    Juro que não sei como alguém possa não venerar o filme depois de assistido. E comparar com outros não vai te ajudar a ganhar parceiros nessa "luta contra o filme" desculpe. Eu já vi uma PORRADA de filmes sobre vampiros. Alguns que sempre vou amar, outros que apenas achei bonzinhos, outros que eu adoro e pocuso viram e outros que eu acho uma bosta perfeita, mas nenhum que chegue perto dessa pérola que esperou quase 10 décadas de tantos rascunhos para chegar finalmente a perfeição que ficou em Drácula de 92. E Nosferatu?? Esse sim é um dos filmes mais datados da história da humanidade. Mesmo Vampyr do Dreyer que é muito mais um filme sobre a sugestão da liberação sexual da mulher é mais assustador e atmosférico que esse fiasco superestimado do Murnau. Aliás, até o filme SOBRE Nosferatu com Dafoe e Malkovich é mais interessante (E amendontrador tb). Nosferatu serve apenas como estudo histórico de filmes de terror de antigamente, mas nem de longe tem a durabilidade e a força que outros filmes da época ainda tem como M, Encouraçado Potemkin e Gabinete do Doutor Caligari. Vc achar que o Coppola incrementar o filme apenas para ele ficar melhor é algo ruim pq vc gostaria de ver algo mais "básico" tb é beeeeeeem relativo. Quer dizer que o filme é ruim pq o diretor que é genial fez ele ficar mais caprichado? Até pq pelo seu exemplo do hamburguer, ficamos sem saber se o cara achou o GOSTO do lanche a delícia que o chef quis fazer ou não. Não é pq alguém dá uma caprichada q o lanche perde o gosto q deveria ter, apenas fica melhor. Q é justamente o caso aqui. E pra mim Drácula do Coppola é essa delícia de chef metido a besta que acertou em cheio no paladar sim. Com a
    diferença é q eu já tinha gostado de ver quando ele chegou na minha mesa. Faz parecer os outros "hamburgues" apenas pão com alface. :D

    ResponderExcluir
  4. Hahaha... Na verdade, o "blábláblá" foi mesmo um artifício para encurtar o texto. Acabou não funcionando, mas eu tentei.

    Em primeiro lugar, não discordo de sua opinião sobre as virtudes técnicas do filme. Ele é visualmente arrebatador e tem uma trilha sonora fantástica, mas é completamente despido de substância. Eu gostei muito do filme ao vê-lo pela primeira vez, quando tinha uns treze ou quatorze anos. Mas o tempo passou, eu desenvolvi algo chamado "senso crítico" e tudo mudou.

    O fato de você dizer que essa é a "mais fiel" adaptação do livro já dá uma idéia de como sua compreensão do texto é equivocada. Ele é SUPERFICIALMENTE fiel à letra (i.e., vários diálogos e a estrutura geral da narrativa), mas subverte completamente o espírito da obra. O livro é extremamente maniqueísta: Drácula é o mal absoluto, despido de qualquer virtude. Aliás, é muito óbvio que Stoker tenta pintá-lo como o Anticristo, pela maneira como ele é idolatrado por Renfield. Não estou fazendo apologia ao maniqueísmo, mas é assim que o livro é. Impossível tentar fazer uma versão fiel à obra e, ao mesmo tempo, humanizar Drácula e despertar solidariedade por ele. Em um momento, o personagem é um monstro que está se divertindo à beça e morrendo de rir enquanto entrega um bebê sequestrado para ser devorado por suas companheiras; em outro ele está se debulhando em lágrimas porque sua amada o deixou. Em um momento, ele está fazendo declarações de amor a Mina; em outro ele está, basicamente só de sacanagem, declarando que vai condenar Lucy à maldição de "viver na morte, à eterna forme por sangue vivo", antes de matar a personagem brutalmente. E é para sentir peninha das "angústias" do personagem? Sinto muito, mas isso não é "humanizar" o personagem, não é conferir-lhe "complexidade psicológica". É torná-lo completamente incoerente. Ou, pior ainda, transformá-lo na versão vitoriana de um pitboy que entra em depressão porque levou um fora da namorada. E em momento algum o personagem intimida ou assusta - o visual dele é tão ridículo (tanto na forma "decrépita" quanto na versão "jovem") que é impossível levá-lo a sério. Nada contra Gary Oldman - eu o considero um dos atores mais brilhantes e versáteis em atividade e, quando o filme foi anunciado, achei a idéia de vê-lo interpretando Drácula espetacular. Mas nenhum ator tornaria esse personagem, da maneira como ele foi escrito, convincente. A mesma coisa com Anthony Hopkins - não é a atuação dele que é ruim, é o roteiro que é uma porcaria: Van Helsing é simplesmente um desvairado barulhento e sem tato que, de vez em quando, tem uns momentos de lucidez.

    As caracterizações de Mina e Lucy também são extremamente infiéis à obra e, francamente, desinteressantes, como eu já aduzi exaustivamente na crítica. Mina, que era, provavelmente, a personagem mais inteligente do livro, se torna o mero "interesse romântico" e uma cabeça-de-vento que, num momento, está apaixonada por Harker e ansiosa por seu retorno e, no outro, de namorico com um estrangeiro que surge do nada e tenta seduzí-la insistentemente; num momento está insistindo para Drácula transformá-la em vampira; no outro, quando é flagrada pelos "heróis" com a boca na botija, começa a choramingar e dizer que está "impura". So há duas conclusões possíveis: ou ela é uma vadia duas-caras, ou ela é uma idiota que não sabe o que quer. E eu desafio você a me explicar o que significa aquele mela-cueca no final em que Drácula, aparentemente, é "redimido" e encontra a paz. Por que? Porque Mina está lamentando sua morte? Porque ele ficou se lamentando que "Deus o abandonou" depois de ser derrotado? Isso não é redenção. Isso é comportamento análogo ao de um criminoso que se "arrependeu" do crime porque foi preso e condenado - ele não está arrependido porque cometeu o crime, está arrependido porque se ferrou. E o perfil psicológico de Lucy pode ser condensado de seguinte forma: ela tem fixação por sexo e quer casar logo para não ficar pra titia.

    O romance de Mina e Drácula tem a profundida de um pires - essa bobagem de "amor reencarnado", como eu disse, é só um artifício manjado para o roteirista não precisar perder tempo e energia explicando o que leva duas pessoas a se apaixonarem. O romance nesse filme é tão denso quanto o romance da recém-lançada porcaria "Wolverine". Como a "redenção" de Drácula no final do filme, a trama romântica só funciona se você desligar o senso crítico e se deixar levar pela bela trilha sonora e pelos diálogos cheios de platitudes. Se você tirar a reencarnação da equação, fica difícil explicar por que esses personagens estão apaixonados. Eu gosto muito do Drácula de 1979, por exemplo, que mostra o conde como um personagem psicologicamente complexo, mas é geralmente esculachado pela crítica, talvez porque achem ridícula a idéia de um filme de terror dirigido pelo mesmo homem que fez "Os Embalos de Sábado à Noite". A diferença é que, naquele filme, o roteirista, ao invés de tentar se manter simultaneamente fiel ao livro e reimaginar Drácula como um anti-herói romântico (coisa que é impossível), deu prioridade à segunda opção e escreveu um roteiro que funciona. O Drácula interpretado por Frank Langella é, sob a fachada carismática, monstruoso, frio, arrogante e ameaçador, mas a atração mútua entre ele e Lucy é desenvolvida de forma perfeitamente convincente e coerente - tanto que, ao contrário da Mina de Coppola, que parece não saber o que quer da vida, a Lucy de Badham, quando os "caçadores de vampiros" partem atrás de Drácula, faz tudo que pode para frustrá-los e deixa claro que está do lado do vampiro.

    E eu não vou nem me repetir falando sobre os conflitos do roteiro entre ficar do lado de Drácula ou de Van Helsing e sua turma: não se trata de uma trama complexa que deixa o espectador têm dificuldades em escolher de que lado ficar, trata-se de um caso em que, claramente, o roteirista e o cineasta decidiram ficar em cima do muro. "X-Men 3", um filme extremamente medíocre, tem muito mais complexidade na caracterização de heróis e vilões do que a bomba de Coppola.

    Minha analogia com o chef preparando um hambúrguer não significou que eu preferia algo mais "básico" - significa que Coppola decidiu fazer um filme baseado em um livro de terror e depois decidiu, preconceituosamente, que "terror" é um gênero sem valor artístico, aquém de seus talentos (talentos que definharam há muito tempo, diga-se de passagem - afinal, não estamos falando do mesmo homem que dirigiu "Godfather" e "Apocalypse Now", mas do homem que dirigiu "Jack") e que não funciona nem como romance, nem como terror e, o pior de tudo, está saturado de pretensão. Kubrick, quando fez "O Iluminado", também decidiu que podia "incrementar" e fazer coisa melhor que o material de origem. A diferença é que ele não tomou essa decisão porque tinha um preconceito afetado contra determinado gênero, mas porque tinha idéias bem definidas sobre como provocar medo, apreensão e desconforto no espectador de uma maneira que o livro jamais consegue.

    Achei, aliás, interessante você mencionar "A Sombra do Vampiro", um exemplo de bom filme que teria sido excelente se não fosse o esnobismo do cineasta contra o gênero "terror". Apesar de gostar bastante do filme, achei-o muito inferior ao potencial do roteiro original. Se você tiver oportunidade (e é bem fácil encontrá-lo na internet), leia o roteiro e entenderá do que estou falando: trata-se uma história de terror de primeira que se mantém fiel aos fatos históricos (Greta Schroeder e Albin grau não morreram durante as filmagens de "Nosferatu",por exemplo) e usa a metalinguagem apenas como um "plus" para incrementar a história e torná-la mais convincente. O filme, por outro lado, dedica boa parte do tempo a explorar, exaustivamente e sem um mínimo de sutileza, as analogias entre as vítimas de Shreck e os "sacrifícios que um Artista deve fazer em nome da Arte". Dá para perceber o tempo todo que o diretor detestou ter que colocar um vampiro na história e só conciliou tal fato com suas "sensibilidades artísticas" usando o vampiro como uma metáfora.

    E relaxe. Eu não tenho a menor intenção de travar uma "luta contra o filme". Seria perda de tempo. Eu sei que, quanto a esse filme, eu estou certo e todos que discordam estão errados.

    Só para fechar, reflita sobre uma coisa: se o "Drácula" de Coppola realmente é a "mais fiel adaptação da obra de Stoker", por que foi necessário fazerem uma "novelization" do filme, escrita por Fred Saberhagen (http://www.amazon.com/Stoker%60s-Dracula-directed-Francis-Saberhagen/dp/B001UQCGBE/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1241714861&sr=1-1). Interessante. O filme é tão fiel ao livro de Stoker que acharam necessário contratar um cara para escrever um livro baseado no filme...

    E, mais uma vez, escrevi um texto interminável. Dessa vez a culpa é sua... hehehehe...

    ResponderExcluir
  5. Bem, não lembro muito quanto a Lucy no livro, mas adorei a personagem dela no filme. :D Vc diz que é um absurdo o personagem dela ser como é na época, mas a verdade é que existiam milhares de meninas devassas como ela na época. Meretrizes ou não. E também na época já existiam os trouxas que caíam de amores por essas garotas. Você tá falando de fator humano. Isso existe da época pré-histórica. Se foi um toque a mais do filme ou não, eu não sei, mas aposto que deixou a personagem mais marcante do que a mera coadjuvante do livro (E dos outros filmes). Toda vez que eu ouço falar da Lucy, lembro da Sadie Frost.

    Já a personagem da Mina, sinceramente sempre me pareceu seja no livro ou nos filmes a romântica ingênua que é. Mais um vez vc reclama de um momento chave do filme ser tão mais complexo do que os outros: A Rider com Drácula tem seu vínculo com ele, e no fundo ela sabe. Junto com ele, ela fica praticamente hipinotizada, que é justamente um dos poderes do Cond. Aliás, Drácula é um dos únicos filmes que realmente se importam em contar a pré-história do "monstro". E de forma fascinante, diga-se de passagem. E pra mim nenhum outro filme do Drácula é tão complexo quanto esse. Não tem nem muito o que explicar, pq tudo que você diz para falar de mal dele, é o que eu acho as coisas mais interessantes. A diferença é que vc pinta tais cenas e personagens de uma maneira que pra mim é irreal. Tenho certeza que fator "amor reencarnado" nada tem haver com roterista não querendo explicar pq duas pessoas se apaixonam. Francamente, vc acha isso mesmo? Vc acha que não seria mais fácil ele simplesmente fazer uma cena com eles se esbarrando na rua e saíndo faíscas do que montando um mosaíco e a origem do Drácula? Eu acho que tem jeitos mais fácil pra rpteristas preguiçosos não se "preocuparem" com algumas coisas do que fazer algo infinitamente mais interessante, hein. Do seu ponto de vista, é quase como o roterista fosse genial "por acaso". hehe.

    "tanto que, ao contrário da Mina de Coppola, que parece não saber o que quer da vida, a Lucy de Badham, quando os "caçadores de vampiros" partem atrás de Drácula, faz tudo que pode para frustrá-los e deixa claro que está do lado do vampiro."

    Mais uma vez. Vc culpa o filme por ser mais complexo que o livro. Isso eu não entendo, já que é um dos principais motivos de eu achar MELHOR que o livro. Ora bolas, aquele é um bando de personagens confusos, imaturos, descobrindo um mundo muito maior que a fachadinha burocrática e burguesa que eles vivem. Dá até para chamar de crítica à essa sociedade. "Na maioria dos filmes a lucy tá do lado do vampiro e pronto. Então é bem melhor!"? Não entendo esse raciocínio. A Lucy se transformou em vampira. Não FOI uma vampira a vida toda junto ao Drácula como as suas "noivas".

    Cara, eu aposto TUDO que vc quiser que está errado, errado, errado e errado sobre achar q Coppola não dá valor ao terror. Vc citou Apocalypse Now e Chefão por achar que estou defendendo Coppola, mas dúvido que conheça alguma das suas melhores obras, algumas da sua fase experimental, que terei prazer de te recomendar como You're a big Boy Now, Caminhos Mal-Traçados, Rumble Fish, Outsiders e principalmente seu clássico mais subestimado dos anos 70: A Conversação, que tem momentos de PURO HORROR. É como um amigo meu diz, se fosse um filme de outra, seria um terror do Roman Polanski. E a comparação é perfeita. E saiba que até de JACK eu gosto! É um dos filmes das minha infância e sinceramente se tivesse sido um filme dos anos 50 com Capra na direção e Stewart estrelando, todo mundo ida dizer que era genial e etc. Infelizmente é um filme de 96, com o "cara que dirigiu Godfather" e isso já é o suficiente para taxá-los. Mas é um filme do Coppola para crianças e essencialmente para crianças que se eu não me engano ele atpé dedicou para uma sobrinha. O q o pessoal esperava? Que Michael Corleoene saísse da tumba no meio do Jack para ser algo mais "Coppola"? É o momento "Harvey" do cara sem coelho! Deixem ele em paz! rsrsrs. Ou seja, isso não é apenas uma discussão sobre as qualidades de Drácula ou não, e sim das qualidades do Coppola, que pra mim nunca definharam em nenhum momento e suas obras dos anos 60 e 80 apenas não tem a notoriedade que merecem como as de um Scorsese e De Palma.


    É aquela coisa, você diz que não quer comparar o livro com o filme, mas acaba fazendo isso no final das contas, como muitos que dizem isso acabam fazendo também. Aí é de uma percepção que vc deveria tentar ser mais compreensível: Nenhum filme tem o mesmo tempo de um livro para poder desenvolver o personagem com todas as qualidades que um livro pode. Mas continuo afirmando que Drácula o fez com perfeição, justamente por melhorar aquilo que na obra parece não ter tanta significância.

    Quanto ao livro do Drácula do Coppola...ora bolas...eu nem sei como te explicar isso...mas é pra ganhar GRANA cara! rsrsrs. Te contaram que esses vermes não fazem isso não? Assim como saiu Batman, Fantasma da Ópera, entre inúmeras adaptações que ganham seus "próprios livros". Não fique surpreso se a Panini lançar Watchmen-o Filme em 4 edições tb não.

    PS: Eu vi esse Drácula do Badham. Aliás, eu gosto de todos os filmes de vampiros que vc mencionou anteriormente exceto Nosferatu, e ainda sim nenhum chega perto da obra-prima do Coppola. Mas vc me deu vontade de rever o do Badham que já faz tempo. Ainda mais para rever Langhella e Olivier. E ainda tem o Nosferatu do Herzog que é infinitamente melhor que o original.

    ResponderExcluir
  6. Hahahaha... Hello darkness, my old friend. Bicho, tenho que admirar sua paixão injustificada pelo filme de Coppola.

    “Bem, não lembro muito quanto a Lucy no livro, mas adorei a personagem dela no filme. :D Vc diz que é um absurdo o personagem dela ser como é na época, mas a verdade é que existiam milhares de meninas devassas como ela na época. Meretrizes ou não. E também na época já existiam os trouxas que caíam de amores por essas garotas.”

    JD, em primeiro lugar, eu também achei a Sadie Frost memorável, mas não (hehehe) pela interpretação da personagem. Quanto ao fato de existir “devassas” em todas as épocas da história, e manés que se apaixonavam por elas, não contesto você. O que acho totalmente implausível é que a Lucy, abertamente tarada como o filme a retrata, não só não escandalizasse a sociedade, mas fosse abraçada tranquilamente pela alta burguesia londrina da época (e descrita por Mina como “pura e virtuosa”). Esse tipo de coisa simplesmente não aconteceria. Ela cairia no opróbrio social, não interessa quanto dinheiro sua família tivesse. Se quer uma visão realista da moralidade burguesa da era vitoriana, veja “Do Inferno” (ou, melhor ainda, leia o gibi) ou “A Era da Inocência”, de Scorsese e você terá um idéia do que estou falando.

    “Já a personagem da Mina, sinceramente sempre me pareceu seja no livro ou nos filmes a romântica ingênua que é. Mais um vez vc reclama de um momento chave do filme ser tão mais complexo do que os outros: A Rider com Drácula tem seu vínculo com ele, e no fundo ela sabe. Junto com ele, ela fica praticamente hipinotizada, que é justamente um dos poderes do Cond. Aliás, Drácula é um dos únicos filmes que realmente se importam em contar a pré-história do "monstro". E de forma fascinante, diga-se de passagem. E pra mim nenhum outro filme do Drácula é tão complexo quanto esse.”

    Você está confundindo confusão e inconsistência com complexidade. A Mina de Coppola é tão complexa quanto Ike Turner dando umas porradas na Tina e depois dizendo “I’m sorry, baby, I’m sorry. You know I love you.” A Mina do livro tem seus momentos de romantismo (como, creio eu, a maioria das pessoas), mas é, em essência, pragmática e madura para sua pouca idade (como eu disse, se você ignorar o machismo superficial de Stoker, trata-se de uma personagem feminina surpreendentemente competente para a época). E a origem do conde, como eu também disse no texto interminável, não é nem um pouco complexa: a amada esposa dele comete suicídio (baseada num bilhete anônimo e com um propósito que, sob o ponto de vista de uma mulher cristã, é totalmente imbecil), Vlad fica puto com Deus (quando deveria ficar puto com a falta de bom-senso da falecida), solta umas blasfêmias, mete a espada num crucifixo e POU! Virou vampiro. Porra, em minha fase de “ateu rebelde” na adolescência, eu fiz coisa muito mais “blasfemas” e, infelizmente, até hoje não consegui virar morcego; ontem à noite, acordei meio grogue para ir ao banheiro e lasquei a testa na parede, resultando num galo que percebi hoje de manhã – pois é, continuo lamentavelmente mortal. A cena, visceralmente, é belíssima: a leitura voice-over do bilhete de suicídio de Elisabetha, a interpretação brilhante de Oldman, que parte do sofrimento excruciante para uma fúria assustadora em questão de segundos, a imagem da cruz sangrando, a trilha sonora bombástica. Mas, intelectualmente, o momento é ridículo. O filme tenta abafar o senso crítico do espectador apelando para a emoção. Isso me lembra quando eu esculachei o final moralista e contraditório de “O Diabo Veste Prada” (que minha irmã caçula adorou) e ela, depois de muita discussão, acabou concluindo que eu “fico analisando demais”. Ah, então tá bom, descobri meu problema: deixe de pensar tanto, rapaz! Isso prejudica!

    “Tenho certeza que fator "amor reencarnado" nada tem haver com roterista não querendo explicar pq duas pessoas se apaixonam. Francamente, vc acha isso mesmo? Vc acha que não seria mais fácil ele simplesmente fazer uma cena com eles se esbarrando na rua e saíndo faíscas do que montando um mosaíco e a origem do Drácula?”

    “Amor reencarnado” é, sim, uma das maneiras mais preguiçosas de inserir uma trama romântica em filme. Acho isso mesmo. O outro exemplo que você usou é só mais uma idiotice irrealista tipicamente hollywoodiana, só que de outra espécie: casal se encontra, rola amor à primeira vista (vida real, baseado em experiências pessoais: casal embriagado se encontra num bar e surge um intenso tesão mútuo), vivem um romance atrapalhado por vários conflitos genéricos (vida real: passam um mês enchendo a cara e trepando intensamente todas as noite, chegando atrasados e de ressaca ao trabalho) e vivem felizes para sempre (vida real: descobrem que, depois de descarregar a tensão sexual, o negócio fica meio chato para uma ou ambas as partes e partem para outra). Ambas são maneiras de se “criar romance” num filme sem esforço e verossimilhança. Odeio as duas. Se quer ver filmes que constroem uma trama romântica de forma verossímil, veja “As Pontes de Madison” (caralho, não acredito que estou admitindo que assisti esse filme em público), o já citado “A Época da Inocência”, “O Paciente Inglês”, “O Jardineiro Fiel”... porra, até o “Titanic”, que é uma das espécies de trama romântica mais manjada que existem (pobre menina rica encontra rapaz pobre cheio de amor pela vida e ambos se completam – o amor acontece) desenvolve a coisa de maneira muito mais convincente que o filme em discussão. A trama romântica de Coppola é só um precursor um pouco mais adulto de “Crepúsculo”. E tem o “Drácula” de John Badham...

    “Mais uma vez. Vc culpa o filme por ser mais complexo que o livro. Isso eu não entendo, já que é um dos principais motivos de eu achar MELHOR que o livro. Ora bolas, aquele é um bando de personagens confusos, imaturos, “descobrindo um mundo muito maior que a fachadinha burocrática e burguesa que eles vivem”. Dá até para chamar de crítica à essa sociedade. "Na maioria dos filmes a lucy tá do lado do vampiro e pronto. Então é bem melhor!"? Não entendo esse raciocínio. A Lucy se transformou em vampira. Não FOI uma vampira a vida toda junto ao Drácula como as suas "noivas".”

    Acho que você precisa rever o “Drácula” de Badham, pois não me entendeu. Naquele filme, os nomes das personagens são invertidos: Lucy é a noiva de Harker e Mina é a amiga desta e primeira vítima do vampiro na Inglaterra.
    Esclarecido isso, a Lucy de Badham corresponde perfeitamente à sua descrição de uma personagem “descobrindo um mundo muito maior que a fachadinha burocrática e burguesa que eles vivem”, ao contrário do que ocorre no filme do Coppola (onde não vi a suposta “crítica social” que você menciona; Van Helsing fala umas platitudes sobre a relevância do estudo de doenças venéreas para a ciência e a moralidade cristã da sociedade então vigente, e é só). Ao contrário da Mina de FFC (que, como eu já cansei de dizer, é uma personagem completamente cabeça-de-vento e inconsistente; quando ela especula que talvez seja “uma mulher ruim e inconstante”, minha reação é responder: “É mais ou menos por aí mesmo...”), a Lucy de Badham é inteligente, forte e decidida, que não se conforma com o mundo em que se vê presa, onde suas únicas perspectivas são se casar com o molóide do Harker (é difícil, nessa versão, entender o noivado dos dois, salvo a falta de opção; fica bem claro, aliás, que ele está levando a coisa bem mais a sério do que ela) e se tornar uma dona-de-casa. Ela é, enfim, uma mulher à frente do seu tempo, retratada de uma maneira extremamente verossímil e sóbria (ao contrário da ninfomaníaca caricata de Sadie Frost). São justamente esses atributos que despertam a atração de Drácula (e não uma manjada e preguiçosa trama sobre “amor reencarnado”). E o Conde, quando surge (e o Drácula de Frank Langella é, para mim, até hoje, o mais cool do cinema; se eu fosse um vampiro, ia querer ser igual a ele quando crescer), com uma visão de mundo muito mais atraente que o amontoado de machos medíocres que a cercam, ela vê nele, além da mera atração física, um homem que corresponde plenamente a suas expectativas intelectuais. E tudo isso é exposto pelo roteiro de forma sutil, sem discursos tentando empurrar o argumento goela abaixo. É assim que se desenvolve um romance entre adultos de forma verossímil, JD, não com clichês cansados sobre reencarnação.

    Aliás, pensando bem, aquele filme é totalmente feminista, de uma maneira extremamente positiva (isto é, diferente da ideologia das “feminazis” que acham que nenhum homem presta). Quando os “caçadores de vampiros” descobrem o romance e vêm com aquela conversa de que “ele vai corromper sua alma imortal”, a reação dela é, em síntese, “alma imortal é o caralho; ele é o tipo de homem que eu quero, não um bando de manés ineptos como vocês”. A Mina de Coppola, por outro lado, reage de forma incompreensível, com aquela baboseira de “impura”. A reação dos “mocinhos”, no “Drácula” de 79, é deixá-la em cárcere privado, para que possam “salvar sua virtude e sua alma” e impedir que ela tente atrapalhar (atitude, aliás, bem típica da Inglaterra vitoriana). Os homens da história (com exceção de Van Helsing, que é mostrado como um sujeito competente e decente, embora meio fanático), como Harker e Seward, são totalmente ineptos, superficiais, mesquinhos e frouxos, tornando ainda mais convincente a atração entre Mina e Drácula. E este em momento algum é mostrado como um sofredor ou vítima do destino: o filme não se esquiva, para manipular o espectador a torcer por Drácula, de mostrar que ele tem um ego hipertrofiado e pode ser extremamente perigoso.

    E Kate Nelligan, em 1979, era o maior tesão. Fiquei apaixonado pela mulher quando vi o filme. Porra, agora fiquei afim de ver de novo.

    “Cara, eu aposto TUDO que vc quiser que está errado, errado, errado e errado sobre achar q Coppola não dá valor ao terror. Vc citou Apocalypse Now e Chefão por achar que estou defendendo Coppola, mas dúvido que conheça alguma das suas melhores obras, algumas da sua fase experimental, que terei prazer de te recomendar como You're a big Boy Now, Caminhos Mal-Traçados, Rumble Fish, Outsiders e principalmente seu clássico mais subestimado dos anos 70: A Conversação, que tem momentos de PURO HORROR."

    Agora você está fazendo presunções equivocadas. Eu sempre menciono “Apocalypse Now” e “Godfather” porque são os primeiros filmes que vêm à mente quando se pensa no talento de Coppola. Mas eu vi Rumble Fish (muito bom, tanto técnica como artisticamente) e Outsiders (nem tanto, mas ainda assim, decente). Aliás, ambos são filmes que, de fato, mostram jovens percebendo que há uma realidade mais complexa do que o mundinho limitado que os cerca (ao contrário de “Bram Stoker’s Drácula”). Mas não chegam nem perto da genialidade que o diretor exibiu na década anterior. E estamos falando de filmes feitos há mais de vinte anos. Já “The Conversation” é excelente, mas quando ele foi feito mesmo? Pois é, em 1974. Meu ponto é: o que o homem andou fazendo de excepcional recentemente? “Rainmaker”, mais uma história de John Grisham sobre (quanto criatividade) um jovem advogado idealista combatendo uma grande empresa vilanesca? “Youth Without Youth” por coincidência mais um romance com tons sobrenaturais que, por sinal, ainda flerta com aquela manjada história de “amor reencarnado”. Não são filmes horríveis, mas é como aquela frase de Sick Boy, em “Trainspotting”, sobre os discos solo de Lou Reed: “In your heart you know that, even though it sounds alright it’s actually, just, shite.” Jack?

    “E saiba que até de JACK eu gosto! É um dos filmes das minha infância [...]é um filme do Coppola para crianças e essencialmente para crianças que se eu não me engano ele atpé dedicou para uma sobrinha. O q o pessoal esperava? Que Michael Corleoene saísse da tumba no meio do Jack para ser algo mais "Coppola"?”

    Sinceramente, acho que essa sua sugestão tornaria o filme infinitamente superior. Um zumbi mafioso caçando um Robin Williams fazendo papel de criança hipertrofiada? Totalmente kickass! Essa história de que “o filme foi feito para o público infanto-juvenil” não serve de desculpa para tamanha merda. “Shrek”, “Finding Nemo”, “Pirates of the Caribbean” (o primeiro, não aquelas duas sequências horríveis) são todos filmes voltados para o público infanto-juvenil e nenhum deles me deixou com vontade de arrancar os olhos. Quanto ao fato de ser um “filme de sua infância”... Cara, a nostalgia tende a comprometer a percepção. “The Incredible Melting Man” era um dos filmes de minha infância... Veja o que eu escrevi sobre ele depois que assisti recentemente.

    “É aquela coisa, você diz que não quer comparar o livro com o filme, mas acaba fazendo isso no final das contas, como muitos que dizem isso acabam fazendo também. Aí é de uma percepção que vc deveria tentar ser mais compreensível: Nenhum filme tem o mesmo tempo de um livro para poder desenvolver o personagem com todas as qualidades que um livro pode. Mas continuo afirmando que Drácula o fez com perfeição, justamente por melhorar aquilo que na obra parece não ter tanta significância.”

    Em primeiro lugar, eu nunca disse que não queria comparar o filme com o livro. Um filme que usa como marketing o fato de ser “a mais fiel adaptação” e coloca o nome do escritor no título está pedindo para ser comparado com o livro. O que eu disse é que não sou purista em relação a adaptações, desde que o resultado final seja bom e demonstre um mínimo de respeito com a obra que a inspirou. “V de Vingança” é um filme que adorei e que tem apenas uma superficial semelhança com o livro e algumas cenas em comum; “O Iluminado” de Kubrick é outro filme que só pegou a premissa e os personagens do livro e fez algo inteiramente diferente, mas genial. E, para usar um exemplo do próprio Coppola, “O Poderoso Chefão” é um filme muito superior ao livro. Meu problema com o “Drácula de Bram Stoker” é que ele é uma péssima adaptação e um péssimo filme.

    “Quanto ao livro do Drácula do Coppola...ora bolas...eu nem sei como te explicar isso...mas é pra ganhar GRANA cara! rsrsrs. Te contaram que esses vermes não fazem isso não? Assim como saiu Batman, Fantasma da Ópera, entre inúmeras adaptações que ganham seus "próprios livros". Não fique surpreso se a Panini lançar Watchmen-o Filme em 4 edições tb não.”

    Nada de errado em querer faturar um extra. Mas há maneiras mais fáceis de ganhar grana em cima de um filme com inspiração literária sem precisar da despesa de contratar um novo escritor para escrever um novo livro. Foi só lançarem “Watchmen”, por exemplo, que saiu a luxuosa “versão definitiva” do gibi (e eu, diga-se de passagem, mordi a isca e comprei rapidamente), os DVDs de “Tales of the Black Freighter” (que também comprei) e dos “motion comics” (que não compro nem a pau, pois a idéia é totalmente retardada). Se o filme de Coppola fosse de fato tão fiel ao livro (que, além de tudo, está em domínio público), bastava lançar uma edição capa dura caríssima, “de luxo”, com alguns extras (tipo cópias das anotações de Stoker no manuscrito), o pôster do filme como capa (“Now a Major Motion Picture by Academy Award-winning director Francis Ford Coppola!”) e distribuir algumas fotos de luxo de cenas do filme a cada 70, 80 páginas. Não fizeram isso porque, se alguém visse o filme o comprasse tal livro, ia pensar “que porra é essa? O filme é totalmente diferente!”.

    PS: Eu vi esse Drácula do Badham. Aliás, eu gosto de todos os filmes de vampiros que vc mencionou anteriormente exceto Nosferatu, e ainda sim nenhum chega perto da obra-prima do Coppola. Mas vc me deu vontade de rever o do Badham que já faz tempo. Ainda mais para rever Langhella e Olivier. E ainda tem o Nosferatu do Herzog que é infinitamente melhor que o original."

    Como eu disse, acabei ficando com vontade de rever o Drácula de 79 também. E o “Nosferatu” de Herzog é uma verdadeira obra de arte, que satisfaz tanto os sentidos quanto o intelecto. Puta merda, não acredito que escrevi esse negócio pedante. Vou parar por aqui.

    ResponderExcluir
  7. O melhor de Vampiros!
    Nada se compara a esse filme!

    ResponderExcluir
  8. Denzel Washington fez par com Angelina Jolie em "O colecionador de ossos". Só pra constar.

    ResponderExcluir
  9. Sinceramente, a única coisa válida desse texto ridículo, absurdo, estúpido, ignorante, pobre, ofensivo, grosseiro, desrespeitoso, irritante enorme, interminável e hiper cansativo foram as citações de outros filmes sobre Drácula.

    Foram os minutos mais mal gastos da minha vida lendo isto!

    Jéssica Bouéres

    ResponderExcluir
  10. Só pra constar, você já parou pra pensar que mesmo "excluíndo o fator reencarnação" é extremamente possível o romance entre Drácula e Mina?
    Ela estava só, com saudades do Jonathan, de "saco cheio" da vidinha comum que sempre levara, cansada de tentar ser perfeita e se encanta com o Conde Drácula, misterioso, livre, sedutor...ele representa os desejos mais profundos e sombrios do coração da moça. E Drácula, por sua vez, é um monstro horrendo, aliás, ele é mais um monstro horrendo do cinema que se apaixona pelo seu oposto, uma criatura frágil, bela, inocente, bondosa...Assim como o King Kong e a Ann Darrow.
    E mesmo que isso não ocorra durante a leitura do livro a adaptação pro cinema continua sendo a mais fiel principalmente se trantando da atmosfera e comportamentoda da época da trama, da maldade do Drácula, cenários...
    Acho que você tenha se decepcionado com o filme pois deva ter lido o livro antes de assitir a versão de Coppola e por ter colocado a expectativa de ver na tela o que quer que você tenha imaginado ao ler a obra.
    Como citei, o filme é uma "versão" do livro e talvez Coppola tenha viajado além das entrelinhas, mas a mente criativa dele nos deu um presentão!

    ResponderExcluir
  11. Nossa, eu realmente não me toquei em algumas coisas quando vi o filme, é considerado a mais fiel ao livro por ter todos os personagens, e todos os nomes em seus devidos personagens como já acontecia de transformarem a lucy na mina e etc...
    Mas realmente é a versão que mostra melhor a Lucy em vampira, enquanto na versão de 1979, mataram ela duas vezes, uma que ela tá feia no túmulo dela, com uma estaca, e depois tiram o coração dela durante o dia ...
    Eu li o livro centenas de vezes e nele dizia que o homem que conduzia a carruagem era parecido com o Drácula, coisa que não vi em nenhum filme ...
    E aquilo dele renegar a Deus e se transformar em um anti-cristo, me fez relembrar Drácula 2000, no qual ele é ninguém menos que Judas.
    E na versão de Copolla, ele é como um adolescente mimado, perde a mulher , renega a deus pra viver toda a eternidade como um monstro se lamentando, pra no final, ser ela quem mata ele ...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na versão do Tod Browning, Bela Lugosi é Drácula e o cocheiro...

      Excluir
  12. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  13. Usei seu texto como base para um trabalho da universidade, Kurt! Para mim sua crítica é a mais imparcial, pois mostra o absurdo que é esse filme ser considerado a "mais fiel adaptação!"

    ResponderExcluir
  14. Cara, eu li o livro recentemente e fui assistir o filme. Ler sua critica foi achar um oásis no deserto, fiquei desnorteado ao ver só criticas positivas pra algo que considero uma caricatura do livro, deu vergonha ver esse filme. Parabéns pela análise.

    ResponderExcluir
  15. Quem conseguiu ler o livro sabe que essa adaptação é muito pobre em detalhes e os personagens não correspondem em nada à descrição original. Dr. Van Helsing no filme parecia um louco desvairado, enquanto no livro era ponderado e sério, até cauteloso às vezes. Lucy era a jovem sonhadora, não a tarada que dava em cima de todos os caras. Mina Harker não era uma apaixonada cabeça de vento, era quase que mais inteligente que os próprios homens (Van Helsing dizia que ela tinha cérebro de homem, coisa machista, mas que entrava no contexto da obra muito bem). Entre outros erros de enredo e o romance inexistente na história original entre Drácula e Mina Harker, que poderia ter sido melhor justificado. Li o livro antes e quando vi o filme fiquei horrorizado com o empobrecimento do enredo. Em essência, se parecem, mas quem ler o livro não suportará o filme. O problema do Francis Ford Coppola é que, ele sendo um diretor consagrado, mesmo que ele faça uma merda de filme (não é o caso de Drácula, mas poderia ser se ele tivesse mudado mais alguma coisa), a crítica vai dizer que ele é um deus e que é perfeito. O problema de ser bom é que quando o cara faz algo ruim os críticos e fãs nunca admitem. Pra mim Dracula de Coppola (não devia ser de Bram Stoker só porque tem os mesmos personagens) é um filme mediano, só porque tem nudez e um pouco mais de "vida" que o livro não justifica dizer que é fiel e nem que superou a obra original. Daria uma nota 6 de 10.

    ResponderExcluir