Escrever sobre "Heaven's Gate", o épico que afundou a United Artists e arruinou a então promissora carreira de Michael Cimino, exigiria um post grande demais até para meus padrões, de modo que não sei se vou chegar a fazê-lo em detalhes um dia, mesmo porque até hoje não formei uma opinião definitiva sobre a obra. Tendo, em síntese, a achar que o filme, por um lado, é um triunfo técnico e uma demonstração de domínio da arte cinematográfica em sua dimensão puramente visual e, por outro, a considerá-lo um fracasso narrativo.
Seja como for, sempre me emputeceu o fato de que o filme, ao contrário de outras obras infames, praticamente não foi visto por ninguém, embora seja quase universalmente desprezado com uma porcaria. Meu conselho (que ninguém solicitou, mas estou dando assim mesmo, porque o blog é meu e eu digo o que quiser) portanto, é o seguinte: deixe de ser maria-vai-com-as-outras e assista à porra do filme antes de proferir qualquer juízo. Seja qual for sua opinião, é inegável que a obra de Cimino foi um marco na história do cinema.
Lamentavelmente, "Heaven's Gate" foi um marco porque serviu de desculpa para transformar a Hollywood transgressora dos anos 70 na bosta pasteurizada que ela, essencialmente, é hoje. O que nos leva ao tópico deste post: "Final Cut: The Making and Unmaking of 'Heaven's Gate'", um fantástico documentário sobre a produção do filme, como a coisa saiu de controle, como os defeitos da obra e os prejuízos que esta gerou foram exagerados muito além do razoável pela mídia e resultaram no fim da United Artists, transformaram Cimino num pária e serviram de pretexto para a indústria de cinema americana ser monopolizada por um bando de executivos e contadores retardados que não fazem a menor idéia do que é qualidade. É, também, um retrato fascinante da personalidade de Cimino. Pode-se dizer tudo sobre o homem: que ele era um porra-louca, um megalomaníaco e um desequilibrado arrogante sem a menor noção de razoabilidade. Uma coisa, porém, é inegável: o homem era (e continua sendo), sem dúvida, um Artista com "A" maiúsculo, com um domínio ímpar de seu ofício, uma visão única e convicções inflexíveis. Era, enfim, o tipo de cineasta que, salvo raríssimas excessões, hoje não consegue um orçamento decente para dirigir um filme, a não ser que seus últimos dez filmes tenham rendido o quíntuplo do que custaram. Por tudo isso, é um indivíduo que, apesar de seus inúmeros defeitos (que o documentário também exibe sem frescuras), merece imenso respeito.
Final Cut (assim como Heaven's Gate), é, portanto, filme obrigatório para qualquer amante do cinema. E está disponível de graça no youtube, dividido em oito partes. Portanto, vá ver o documentário agora. Só de estímulo, eis a primeira parte:
Final Cut (assim como Heaven's Gate), é, portanto, filme obrigatório para qualquer amante do cinema. E está disponível de graça no youtube, dividido em oito partes. Portanto, vá ver o documentário agora. Só de estímulo, eis a primeira parte: